A dependência química é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença crônica que pode ser tratada e controlada simultaneamente como doença e como problema social. De evolução própria e progressiva, a doença pode levar a problemas psiquiátricos graves,prisão e até à morte, mas, apesar da gravidade e da cronicidade, pode ser tratada.

O álcool, o cigarro, crack, cocaína, maconha, inalantes, alucinógenos, cafeína, benzodiazepínicos (remédios para ansiedade, pânico e ou insônia) enfim, qualquer substância que haja de forma psicoativa pode gerar dependência.

Segundo o psiquiatra Hélio Lauar, diretor da clínica CEPSI e professor da Residência de Psiquiatria Forense do IRS FHEMIG, vários são os motivos que levam ao uso abusivo de drogas, mas o final é sempre o mesmo. As drogas acionam o sistema de recompensa do cérebro, uma área encarregada de receber estímulos de prazer e transmitir essa sensação para o corpo todo. Elas provocam uma ilusão química de prazer que induz a pessoa a repetir seu uso compulsivamente. Com a repetição do consumo, perdem o significado todas as fontes naturais de prazer e só interessa aquele imediato propiciado pela droga, mesmo que isso comprometa e ameace a vida do usuário.

Geralmente são considerados fatores de risco para o abuso de drogas: baixo autocontrole, elevados níveis de procura de novidades, facilidade de assumir riscos, excesso de raiva, história de vida com eventos adversos, excesso de tolerância familiar aos desvios de comportamento, excesso de independência, afeto familiar negativo.

O psiquiatra salienta que o consumo de drogas em geral se dá num padrão em que chega facilmente ao quadro de dependência química. Os sintomas podem ajudar a identificar se uma pessoa é ou não dependente. O principal sinal é quando o indivíduo passa a sentir necessidade de consumir mais drogas com o objetivo de prolongar seu efeito. O consumo vai se tornando cada vez mais constante e mesmo com o desejo de consumir menos, o dependente não consegue. A abstinência é o sintoma que mais caracteriza a dependência química.

De acordo com o Dr.Hélio Lauar, o tratamento adequado se compõe de várias etapas: uma boa avaliação inicial, identificando o grau de dependência e todos os problemas associados a ela; a desintoxicação, período de separação entre o paciente e a droga, que exige muita atenção da família e da equipe assistente; treinamento para prevenção de recaída; mudança de hábitos de vida; manutenção da sobriedade, que deve ser vivida pelo indivíduo como prêmio por todo seu esforço ao lutar contra a dependência; e a reinserção social e laboral. O psiquiatra também promove seminários informativos, para que seus pacientes possam se apropriar do conhecimento sobre os males e riscos que o abuso das drogas pode causar, e incentiva a participação em grupos de autoajuda. Além disso, todo o tratamento deve ser permeado por um trabalho constante de motivação do paciente e de seus familiares. Para estes, é feito desde o início do tratamento o que o Dr. Lauar chama de “construção de família parceira”, pois é fundamental que os familiares do dependente químico também sejam atendidos e orientados para que possam ter e oferecer o apoio necessário.

O médico afirma que a abordagem da família é de extrema importância no tratamento e já foram encontrados vários estudos cujos resultados atestam a efetividade dos tratamentos nos quais a família em si é o objeto de intervenção, com melhores resultados, se comparados àqueles centrados apenas no paciente. Ele explica: “a maioria dos familiares espera aprender a lidar com o dependente e receber orientação profissional. Vale anotar que uma boa abordagem familiar é aquela que possibilita que cada membro do grupo possa ver os demais em interação, isto é, passar da compreensão particular à compreensão do outro, ampliando a percepção tanto das dificuldades quanto das formas de solucioná-las. O atendimento familiar oportuniza às famílias repensarem os seus conceitos e incluírem-se no projeto de mudança.”