Nos últimos tempos, embora as mulheres tenham acessado o mercado de trabalho em condições de igualdade educacional, não conseguiram crescer na mesma proporção que os homens em termos de oportunidades e hierarquia organizacional.

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, cabe destacar a equidade de gênero como fator transformador dessa realidade. Estudos mostram que valorizar a participação feminina nas empresas traz uma série de benefícios, ampliando a força de trabalho.

A assistente social Dáphane Coutinho, do setor de Promoção da Saúde da Unidade de Serviço de Saúde e Segurança do Trabalho da Copasa – USSS, fala sobre a importância da diversidade, os desafios e diferenciais da mulher no mercado de trabalho e as vantagens do investimento no seu potencial.

 

 

 

 

 

 

Qual a diferença entre igualdade e equidade de gênero?

"A igualdade passa pelo princípio da universalidade, ou seja, todos devem ser regidos pelas mesmas regras, com os mesmos direitos e deveres. A equidade, por outro lado, parte do princípio de entender que não somos iguais, que é preciso acolher as diferenças e que, portanto, é necessário reconhecer as necessidades de cada pessoa. Existem diferenças físicas, culturais, emocionais, regionais, econômicas etc. O importante é criar condições para que as oportunidades sejam iguais.A igualdade só pode existir de fato a partir da equidade."

Quais os principais desafios encontrados pelas mulheres no mercado de trabalho que dificultam a igualdade de oportunidades?

"Existem ainda hoje algumas diferenças culturais que determinam papéis sociais para as mulheres desde a infância, como gestoras do lar e do cuidado com a família. Esses papéis acrescentam uma carga a mais para as mulheres. Ao longo do tempo, elas alcançaram o mercado de trabalho e, hoje, compõem a renda familiar ou são a principal fonte de renda, mas acumulam os outros papéis. Isso cria uma condição de desigualdade.

Na maioria dos lares, quem cuida das pessoas em casa? Quando adoece alguém, principalmente as crianças e idosos, quem abre mão da profissão ou de outras questões pessoais para exercer esse cuidado? Majoritariamente, é a mulher. Embora já aconteça um movimento de partilha das funções entre homens e mulheres, ainda é muito desigual. É uma barreira. Muitas vezes, a mulher tem menos chances de exercer uma função, ter uma promoção no trabalho ou nem é cogitada para um cargo porque tem filhos ou tem que gerir o cuidado com o lar. Há um entendimento de que aquela mulher que exerce múltiplos papéis não vai dar conta de assumir maiores responsabilidades no trabalho. Isso impacta bastante a condição da mulher no mercado de trabalho."

 

Quais os diferenciais da força de trabalho feminina para uma organização?

"As mulheres têm determinadas habilidades e capacidades estimuladas, que não provêm da formação profissional, mas das experiências de vida. O papel social de gestora do cuidado confere à mulher uma habilidade específica - um olhar diferenciado sobre gerenciamento, sobre o bem-estar da equipe, sobre as formas de encontrar soluções - que contribui muito para o desenvolvimento do trabalho. Essa habilidade também aumenta sua capacidade de otimizar o tempo, de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo.  É uma grande vantagem para a empresa que sabe valorizá-la.

Além disso, em geral, as mulheres são condicionadas a serem mais flexíveis e empáticas no relacionamento interpessoal. Essa habilidade capacita a mulher para uma boa atuação em cargos de liderança, por exemplo, o que ainda é pouco explorado. É preciso criar oportunidades para que as mulheres ocupem mais funções que se beneficiem de suas habilidades. É importante ressaltar que o que se busca é igualdade. As mulheres têm capacidades que não são impeditivos para acessar cargos de decisão e, sim, diferenciais."

 

Quais os benefícios da promoção da equidade de gênero para uma instituição?

"O principal deles é reter grandes talentos, pessoas capazes, que têm visões diversas pela forma como foram desenvolvidas. Essa união de olhares diferentes pode contribuir para os resultados da empresa.

Hoje, de um modo geral, as organizações têm focado na capacidade cooperativa e colaborativa das pessoas no desenvolvimento das ações. E cada um tem aquilo que pode contribuir, não só pelo seu conhecimento técnico, mas também por suas perspectivas para analisar as questões e criar soluções. As diferenças entre a visão de homens e mulheres são complementares. A valorização do trabalho em parceria, considerando a diversidade, beneficia as mulheres, os homens e as empresas."

 

Qual o comportamento esperado da empresa para promover a equidade de gêneros?

"A empresa tem que criar uma cultura institucional. É uma função educativa junto aos empregados para modificar a forma de agir e pensar e promover ações para que a cultura institucional acolha a diversidade, não só em relação ao gênero, mas também racial, cultural, religiosa etc.

A empresa é um espaço muito diverso, que precisa se adaptar constantemente. Hoje, o foco na implantação da ESG - que corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização - ajuda a tornar essa diversidade uma questão prioritária. A pessoa não está na empresa só para trabalhar. As diferenças e necessidades de cada um precisam ser acolhidas e as características positivas dessa diversidade devem ser potencializadas e estimuladas para transformarem-se em oportunidades de crescimento para o profissional e para a empresa. É criar um ambiente saudável, livre de preconceitos e críticas, para que haja condições iguais de desenvolvimento para todos."

 

Quais ações da Copasa em prol da valorização da mulher no trabalho você destaca?

"A Copasa tem benefícios específicos voltados para as empregadas mulheres. O auxílio creche, por exemplo, vem auxiliar as mães para que elas possam se dedicar ao trabalho, sabendo que seus filhos estão sendo bem cuidados. Afinal, inúmeras mulheres não conseguem trabalhar por não terem com quem deixar seus filhos durante o horário de expediente.

Outro programa de destaque oferecido é a mentoria feminina, gerenciada pela Unidade de Serviços de Educação Corporativa, que prepara mulheres para assumirem cargos de liderança. Até 2025, a Copasa pretende elevar para 37% o percentual de mulheres nesses cargos. Além disso, a empresa tem uma política que considera o gênero feminino como um dos critérios de desempate nos processos de seleção interna, como forma de aumentar as oportunidades para a participação das mulheres.

Em 2023, iniciamos na Promoção da Saúde, da Unidade de Serviço de Saúde e Segurança do Trabalho, o Projeto AMA, com o objetivo de acolher as mulheres gestantes e lactantes, que vivem um momento de transformação física, mental e de rotina, para que elas possam se adaptar da melhor forma ao trabalho. O programa oferece a sala de apoio à gestação e amamentação, com todos os recursos necessários para o bem-estar das mulheres nessa fase (confira, abaixo, o depoimento de algumas usuárias).

Ações como essas melhoram a relação da empresa com seus empregados e com a sociedade, além de reter talentos e estimular novos talentos a desejarem fazer parte dessa organização."

 

O PAPEL DA SALA DE APOIO À GESTAÇÃO E AMAMENTAÇÃO:

“Ter a sala de apoio me ajuda a continuar amamentando, mesmo não estando a todo momento com o bebê. É maravilhoso! Eu não teria condições de manter se não tivesse esse espaço. Para mim foi primordial, inclusive para a adaptação no retorno ao trabalho.

A iniciativa me valoriza, principalmente, como pessoa. É questão de entender esse momento, em que a gente se sente vulnerável como mulher. Isso me dá ferramentas para conseguir lidar melhor com essa fase de transição. É um movimento muito positivo.” Karoline Tenório da Costa, gerente da Unidade de Serviço de Desenvolvimento Tecnológico

 

“Durante a gestação, a mulher tem mais sono e, muitas vezes, isso dificulta manter um ritmo normal de atividades. A empresa reconhece e entende a minha necessidade como gestante e oferece a sala de apoio, que é um ambiente confortável, para que eu possa descansar quando preciso, em qualquer horário.

Eu acho a iniciativa um diferencial enorme. Em geral, o que se percebe em outras empresas é um receio das gestantes de serem vistas como menos produtivas e uma desvalorização da sua condição. Aqui eu vejo um movimento contrário, de valorização do meu momento e da vida que eu estou gerando. Acredito que a empresa me vê de uma maneira diferente e me sinto amparada.” Larissa Zacarias, técnica de projetos e obras da Unidade de Serviço de Expansão Metropolitana - USEM

 

“O retorno da licença maternidade traz um turbilhão de emoções e mudanças. E uma grande preocupação é a questão da amamentação. Eu me senti bem acolhida e tranquila tendo um local apropriado, que posso utilizar na hora que precisar para retirar o leite e armazená-lo para meu filho. Seria complicado se eu não tivesse esse apoio.

Não só a empresa, mas todos da equipe entendem que em certas horas do dia eu preciso me ausentar. Valoriza muito minha posição como mulher. É uma iniciativa excelente e só tenho a agradecer, pois ser acolhida dessa forma é primordial para um bom retorno ao trabalho.” Raíssa Meireles, técnica em enfermagem do trabalho da Unidade de Serviço de Saúde e Segurança do Trabalho – USSS