O câncer na infância e adolescência é raro, correspondendo a apenas 3 a 4% do total de casos de câncer. Parece pouco, mas a cada três minutos uma criança morre pela doença e, anualmente, mais de 400 mil crianças e adolescentes no mundo são diagnosticados, segundo dados da organização Childhood Cancer International. No Brasil, o câncer é a primeira causa de morte  por doença entre pacientes até 19 anos. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que, entre 2023 e 2025, quase oito mil novos casos serão diagnosticados.

A DOENÇA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

O câncer infantojuvenil corresponde a um grupo de várias doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais. Essas doenças afetam, com mais frequência, as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação.

Diferentemente de vários tipos da doença em adultos, que podem ser prevenidos, as causas de muitos cânceres infantojuvenis ainda são desconhecidas. Também não há evidências científicas que deixem clara a associação entre a doença e os fatores ambientais, visto que, em geral, estes fatores demandam longo tempo de exposição do paciente.

 

 

Assim, segundo a Dra. Karine Correa Fonseca, oncologista pediátrica que atende no Oncobio – Hospital Vila da Serra e em outras instituições da rede pública e privada de Belo Horizonte, o foco é o diagnóstico  e o tratamento precoces. O acompanhamento pediátrico de rotina é de extrema importância para que qualquer sinal seja percebido em tempo hábil. A manutenção do calendário de vacinação em dia, conforme orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), especialmente das vacinas para hepatites e HPV, pode atuar na prevenção do câncer na adolescência e em adultos jovens.

DIAGNÓSTICO

De acordo com a Dra. Karine, há alguns fatores de risco que aumentam as chances de a criança ter uma neoplasia. A maioria dos tumores na infância estão relacionados a malformação genética e a algumas síndromes. Nesses casos, devido ao maior risco de desenvolvimento da doença, o acompanhamento médico deve incluir exames periódicos específicos para rastreamento do câncer. 

Nas situações mais comuns, em que a criança não apresenta fatores de risco, a médica explica que o mais importante é ter um pediatra de referência para acompanhar o desenvolvimento da criança. “O pediatra que conhece seu paciente por um longo tempo tem maior sensibilidade para perceber mudanças e sinais da doença. Isso é fundamental porque os sintomas do câncer são semelhantes a outros relacionados a problemas comuns na infância. O alerta vem quando estes sintomas estão sendo tratados conforme a rotina pediátrica e não apresentam melhora.”

A Dra. Karine ressalta que, por ser um câncer menos frequente, dependendo da localidade onde o paciente vive, os médicos pediatras costumam ter pouca ou nenhuma experiência com casos da doença, o que pode dificultar a suspeita e o diagnóstico. Daí a importância de disseminar informações para que todos fiquem atentos aos sinais do câncer nesta faixa etária.

SINAIS DE ALERTA

É fundamental que as famílias e os profissionais de saúde conheçam e estejam atentos aos sinais de tumores infantojuvenis para que busquem o diagnóstico o quanto antes. É importante observar sintomas como:

- Palidez, hematomas ou sangramento, dor óssea;

- Caroços ou inchaços, especialmente se indolores ou sem febre, ou outros sinais de infecção;

- Febre por mais de sete dias sem causa aparente;

- Perda de peso inexplicada, tosse persistente ou falta de ar, sudorese noturna;

- Alterações oculares: reflexo branco na pupila do olho quando exposta à luz), estrabismo, perda visual, hematomas ou inchaço ao redor dos olhos;

- Inchaço abdominal;

- Fadiga, letargia ou mudanças de comportamento;

- Tontura, perda de equilíbrio ou coordenação;

- Dor de cabeça persistente e progressiva, primariamente noturna, que acorda a criança ou aparece quando ela se levanta de manhã, acompanhada de vômito ou de sinais neurológicos.

SOBREVIDA

Os cânceres de crianças e adolescentes são considerados mais agressivos e se desenvolvem mais rapidamente. Por outro lado, segundo a oncologista pediátrica, se comparados com os adultos, os pacientes infantojuvenis têm, em geral, melhor resposta aos tratamentos e as chances de cura são maiores.

No Brasil, os índices variam de acordo com a região, devido a questões socioeconômicas. De forma geral, se o paciente é encaminhado para uma instituição que tenha condições de diagnosticar e tratar a doença adequadamente, a média de sobrevida é em torno de 70%. Mas, infelizmente, ainda é mais comum que a criança tenha o diagnóstico da doença em estágio mais avançado, salienta a médica. Contudo, a situação vem melhorando devido à maior disseminação de informações sobre os sintomas.

 

PRINCIPAIS TIPOS

 

Os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias, os que atingem o sistema nervoso central e os linfomas. Conheça os tipos mais comuns:

 

Leucemia

É o tipo de maior incidência. Acontece quando os leucócitos, tipo de glóbulos brancos, perdem a função de defesa e passam a ser produzidos de maneira descontrolada. As leucemias estão dividias em dois grandes grupos: mieloide e linfoide. Elas também podem ser agudas (de evolução mais rápida) ou crônicas (de evolução mais lenta).

 

Tumores do sistema nervoso central

São tumores que ocorrem devido ao crescimento de células anormais no cérebro. Correspondem ao segundo tipo em termos de malignidade e ao tumor sólido mais comum na infância.

 

Linfoma

O linfoma infanto juvenil acontece quando células do sistema imunológico, especializadas em defesa, não conseguem mais proteger o organismo contra as bactérias, vírus e outros perigos, e se transformam em malignas, crescendo de forma descontrolada e “contaminando” o sistema linfático.

 

Neuroblastoma

Tipo de câncer que acomete principalmente as crianças menores de 10 anos, incluindo os recém-nascidos e lactentes. A doença surge, em geral, nas glândulas adrenais, localizadas na parte superior do rim, levando ao aumento do tamanho do abdômen.

 

Tumor de Wilms

Também conhecido como nefroblastoma, é um tumor maligno originado no rim. É o tipo de tumor renal mais comum na infância e pode acometer um ou ambos os rins.

 

Retinoblastoma

É um tumor maligno originário das células da retina, que é a parte do olho responsável pela visão, afetando um ou ambos os olhos.  É o mais comum tumor intraocular da infância e geralmente ocorre antes dos 5 anos de idade. Pode ocorrer de forma esporádica ou hereditária.

 

Tumores de células germinativas

São neoplasias benignas ou malignas derivadas das células germinativas, aquelas que dão origem aos espermatozoides e óvulos.

 

Sarcomas

O osteossarcoma é o tumor maligno ósseo mais frequente na infância e adolescência, comumente associado a dor local e alterações ósseas, com maior prevalência nas pernas. O sarcoma de Ewing é o segundo tumor ósseo mais frequente na infância e adolescência. Trata-se de um câncer altamente agressivo, que pode também surgir em tecidos de partes moles (músculos, cartilagens). O rabdomiossarcoma é o mais o frequente tumor de partes moles na infância.