O aumento dos casos de dengue em todo o país tem alarmado a população. De acordo com o Ministério da Saúde, houve um crescimento de 16,8% dos casos prováveis de dengue no país em 2023, comparado ao ano anterior, com mais de 1,6 milhão de notificações. Minas Gerais está entre os estados com elevadas taxas de transmissão. Em 2024, até o dia 05 de fevereiro, foram registrados mais de 111 mil casos prováveis  e quase 40 mil casos comprovados da dengue em Minas.

 

Pode pegar de novo

A dengue deve ser motivo de preocupação para todos. Muita gente que já pegou a doença acredita que pode relaxar em relação aos cuidados porque fica imune, mas é justamente o contrário. Nesses casos, a atenção precisa ser redobrada. Segundo a Dra. Fernanda Fernandes , médica de Família e Comunidade do Programa Integração Saúde, na cidade de Pouso Alegre,  o vírus da dengue tem quatro sorotipos. A infecção por um deles gera imunidade contra o próprio, mas é possível contrair dengue novamente se houver contato com um sorotipo diferente. Assim, uma pessoa pode ter dengue por até quatro vezes.

 

 

Os riscos da reinfecção

Uma nova infecção por dengue, geralmente, tende a ser ainda mais perigosa. A Dra. Fernanda explica que não há dados científicos que comprovem esse risco, mas observa-se que uma segunda infecção por qualquer sorotipo da dengue é, na maioria das vezes, mais grave que a primeira, inclusive, com mais chances de se tornar dengue hemorrágica.

Contudo, a evolução para quadros mais graves e dengue hemorrágica pode acontecer mesmo na primeira infecção e depende da resposta imunológica de cada pessoa. Além disso, em muitos casos, a doença é assintomática. Enfim, não há como prever quem vai desenvolver a forma mais grave da doença ou não, mas as estatísticas mostram que cada vez que a pessoa pega a dengue, aumentam os riscos de desenvolver as formas graves.

 

Atenção à dengue hemorrágica

Quadro mais grave e mais temido, a dengue hemorrágica ocorre quando a doença afeta as plaquetas, células do sangue responsáveis pela coagulação, causando hemorragias. No início, segundo a médica, o paciente apresenta os mesmos sintomas da dengue clássica. Mas, por volta do terceiro ou quarto dia, ocorre um agravamento do estado geral de saúde e surgem sangramentos, que podem ser pelo nariz, gengivas e até olhos ou estar presentes no vômito e na diarreia. A dengue hemorrágica deve ser tratada de forma urgente, pois o período de 24h a 48h após iniciarem os sangramentos é determinante para evitar complicações e morte.

Sintomas da dengue clássica

Os sintomas da dengue variam bastante, de acordo com cada paciente. Os mais comuns são febre alta, geralmente acima de 38 ºC, de início repentino e com duração de dois a sete dias, associada a dor de cabeça, fraqueza, dor muscular, nas juntas e atrás dos olhos. Também costumam aparecer manchas vermelhas na pele. A Dra. Fernanda observa que outros sintomas podem ser manifestações da doença como perda de apetite, náuseas, vômitos e diarreia.

 

Tratamento

O primeiro passo é classificar o tipo de dengue, de acordo com as manifestações clínicas apresentadas e manter atenção à evolução do quadro, especialmente em grupos mais vulneráveis, como idosos, crianças, gestantes, imunocomprometidos, pessoas com HIV, doenças crônicas como diabetes, entre outros, devido ao sistema imunológico mais frágil.

No geral, o tratamento da dengue clássica é direcionado ao controle dos sintomas, através de medicações simples. Podem ser utilizados analgésicos e antitérmicos para conter dores e febre, como paracetamol, e ainda antieméticos, para conter náuseas e vômitos . O uso de anti-inflamatórios é contraindicado para evitar o choque hemorrágico.

A médica afirma que é fundamental para o tratamento a hidratação intensa, que muitas vezes precisa ser venosa, de acordo com a condição do paciente. Também é indicada a hidratação oral com muito líquido e soros reidratantes, além de probióticos e repositores da flora intestinal nos casos de diarreia. Alimentação leve e descanso são recomendados.

Para os casos de dengue hemorrágica, o tratamento tem que ser feito em ambiente hospitalar e varia conforme a resposta de cada paciente.

 

Prevenção

Para evitar a dengue é fundamental eliminar os focos de proliferação do vetor, Aedes aegypti, que é o mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya. A Dra. Fernanda salienta que, além do trabalho exercido pelos órgãos públicos, cada cidadão tem que fazer seu papel, não deixando água parada em plantas e recipientes, lixo acumulado, entre outras ações necessárias para controle dos ambientes. É importante criar uma rotina de procurar, em casa e nos arredores, possíveis locais que possam acumular água e eliminá-los.

Além disso, a cobertura do corpo com roupas mais compridas e o uso de repelentes são medidas protetoras contra as picadas do mosquito. A vacinação contra a dengue é outra medida extremamente importante e segura, que protege contra os quatro sorotipos diferentes da dengue.

Aprovada em março de 2023 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a vacina Qdenga, desenvolvida pelo  laboratório japonês Takeda, deve ser aplicada em duas doses, com intervalo de 90 dias. Neste ano, o imunizante começa a ser distribuído gratuitamente pelo SUS, para grupos mais afetados e regiões com altas taxas de transmissão, como várias cidades de Minas Gerais. O público-alvo inicial são crianças e adolescentes de 10 a 14 anos e a distribuição das doses acontece de forma gradativa, de acordo com a capacidade de produção e entrega dos imunizantes pelo laboratório, que está priorizando o sistema público para atender à grande demanda.