Um diagnóstico de Alzheimer muda tudo. A doença altera o curso da vida do paciente e de seus familiares e precisa ser bem compreendida para que todos sigam em frente com os cuidados necessários, que são multidisciplinares. Quanto antes chega este diagnóstico, melhores as condições de adaptação e assistência para retardar a progressão da doença. Já a prevenção é uma construção ao longo da vida. Conhecer e reduzir os fatores de risco são o primeiro passo.

No Brasil, cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência. Segundo estimativas da Alzheimer’s Disease International, em todo o mundo, são mais de 55 milhões de pessoas e os números poderão chegar a 139 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população.

De acordo com Fernanda Langkammer, neuropsicóloga credenciada da Copass Saúde, o Alzheimer é um dos tipos de demência mais comum. Não tem cura, mas o tratamento adequado permite melhorar a qualidade de vida do paciente. Contudo, “sabe-se que muitos pacientes são tratados com demências não diagnosticadas corretamente, o que pode prejudicar os tratamentos.”

 

 

 

 

A DOENÇA E SEUS SINTOMAS

O Alzheimer uma doença neurodegenerativa, caracterizada pela perda de neurônios que leva a um declínio das funções de memória, atenção, linguagem, orientação espacial, comportamento, entre outras habilidades. A doença é progressiva e pode ser dividida em fases, conforme explica a neuropsicóloga:

Fase leve

Geralmente as pessoas buscam avaliação médica ainda nesta fase, devido às alterações de comportamento. O paciente tem autonomia, mas começa a apresentar perda de memória recente, esquecendo-se de compromissos e fatos; passa a repetir muito a fala, esquecer algumas palavras usuais do seu vocabulário; apresenta uma desorganização em relação ao tempo e espaço, podendo perder a noção de onde está, por exemplo. São queixas sutis, mas que começam a ter impacto no dia a dia da pessoa.  Essa fase pode vir acompanhada de depressão ou um certo grau de agressividade e irritação do paciente por não entender o que está acontecendo.

Fase moderada

Nesta etapa, o prejuízo de memória é mais relevante e aumentam as questões de ordem emocional. A pessoa começa a ter limitações para administrar suas coisas e fazer as tarefas do dia a dia sozinha, como cozinhar, cuidar da casa, cuidar da higiene pessoal; aumenta também a dificuldade na construção do raciocínio e da linguagem, com redução da capacidade de verbalização. É comum nesta fase o aumento da desordem comportamental, com maior agressividade em conflitos com a família por coisas simples, devido aos esquecimentos frequentes e confusão mental.

Fase avançada

Nesta fase, o paciente  já apresenta grande dificuldade de memória para o resgate de informações básicas como onde ele está, quem é, seu próprio nome, para que servem os objetos. Aos poucos, ele perde a capacidade de andar, controlar as necessidades básicas, deglutição etc. Nesta fase, a família também precisa de muito apoio para compreender a condição do paciente, que se torna completamente dependente.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do Alzheimer é multidisciplinar e pode envolver exame clínico, exames de sangue, ressonância magnética e exame neuropsicológico. É fundamental que o diagnóstico seja preciso, principalmente nas fases iniciais.  Quanto mais clareza, entendimento e certeza do quadro clínico, melhor o prognóstico. O papel da família também é extremamente importante. Quanto antes os familiares percebem que tem alguma alteração acontecendo, melhor.

REABILITAÇÃO

De acordo com Fernanda Langkammer, a progressão do Alzheimer é inevitável, mas o tratamento adequado, introduzido na fase inicial da doença, pode garantir mais qualidade de vida no maior espaço de tempo possível.  Isto porque há como intervir para promover uma reabilitação neuropsicológica, ou seja, trabalhar nas áreas do cérebro que estão preservadas para compensar as áreas degradadas. Quanto antes iniciado este processo, maiores as possibilidades. “É uma corrida contra o tempo”, explica.

É preciso entender, porém, que a resposta ao tratamento depende das condições de cada paciente. Como a doença vai progredir depende, além da genética do paciente, de uma assistência integral, que envolve medicação, socialização e acompanhamento multidisciplinar.

BASES DO TRATAMENTO

O tratamento do Alzheimer inclui monitoramento constante, medicação específica desde a primeira fase; atividade física regular; assistência neuropsicológica; socialização; estimulação cognitiva, entre outras intervenções para a manutenção do cérebro ativo e organizado.

O tratamento, em todas as fases, deve ser feito em conjunto com a família do paciente, que também precisa de assistência psicológica e orientação adequada para o enfrentamento da doença.

PRINCIPAIS FATORES DE RISCO

Uma série de condições que podem influenciar o desenvolvimento do Alzheimer, como fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida. Entre os principais, destacam-se:

. Avanço da idade. A maioria das pessoas diagnosticadas com Alzheimer tem 65 anos de idade ou mais. Estima-se que menos de 5% dos casos desenvolvem a doença prematuramente.

. Histórico familiar de Alzheimer e outras demências. Pessoas que têm casos na família, especialmente entre parentes de primeiro grau, têm maior predisposição para a doença.

. Sedentarismo. A inatividade física aumenta os riscos de desenvolvimento de doenças crônicas e demências em geral.

. Tabagismo e consumo excessivo de álcool. São hábitos comprovadamente associados ao aumento dos riscos para quadros de demência.

. Pouca atividade intelectual. Pessoas que evitam novas conexões, aprendizados e habilidades acabam limitando a atividade cerebral, o que favorece o aparecimento de doenças degenerativas.

. Diabetes e hipertensão. São doenças que, quando não controladas, aumentam os riscos de desenvolvimento do Alzheimer.

. Contato social pouco frequente. relações sociais ativas reduzem o risco de demência, com aumento da reserva cognitiva e incentivo a comportamentos benéficos para a saúde mental.

COMO PREVENIR

. Estilo de vida ativo. O cérebro é um músculo que precisa ser trabalhado. É importante buscar sempre conhecer e aprender coisas novas, fazendo o cérebro se exercitar através do estímulo constante à atividade mental.

. Atividade física regular e alimentação equilibrada. Hábitos de vida saudáveis evitam as doenças degenerativas e são fundamentais para o controle de doenças crônicas que aumentam os riscos para o Alzheimer.

A neuropsicóloga ressalta que tanto a atividade mental quanto a atividade física precisam respeitar as preferências de cada um. É mais difícil incluir algo na rotina que não ofereça prazer em sua realização. O estímulo a qualquer atividade, novo aprendizado ou exercício deve levar em conta os interesses e gostos da pessoa.

Outra dica importante: diante de qualquer suspeita, principalmente quando há histórico familiar de demência, buscar assistência médica para um diagnóstico adequado e precoce.