Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que cerca de 25% a 30% da população mundial pode desenvolver o bruxismo. Já os casos de DTM são ainda mais frequentes, especialmente nas mulheres, que chegam a representar cerca de 80% do total. No Brasil, estima-se que aproximadamente 37% da população apresente ao menos um sintoma de DTM.

E qual a relação entre esses dois transtornos?

Para o cirurgião buco-maxilo-facial e professor da Faculdade de Odontologia da UFMG, Felipe Baires, credenciado da Copass Saúde, apesar de muita gente confundir, o bruxismo e a DTM são condições distintas, porém associadas porque uma pode levar à outra.

O Dr. Felipe Baires explica melhor cada um deles, suas consequências e a forma adequada de tratamento e prevenção:

 

BRUXISMO

O bruxismo é o ato involuntário de apertar ou ranger os dentes, mantendo-os encostados, que acomete crianças, adultos, homens e mulheres, sendo mais frequente entre os 20 e 50 anos. Esse ato pode ocorrer ao longo do dia ou à noite e, geralmente, acontece nos dois períodos.

O bruxismo é um hábito parafuncional, ou seja, é algo que o organismo não deveria realizar, assim como roer unhas, mordiscar o canto dos lábios ou morder a tampa da caneta. Pode estar relacionado a uma série de fatores, sendo mais prevalentes as questões emocionais como ansiedade, depressão, momentos de maior estresse.

A pessoa pode ter o bruxismo e não perceber, afirma o Dr. Felipe. Por isso, um dos sinais mais evidentes do problema são desgastes dentários acentuados. O bruxismo, de forma exacerbada e descontrolada, pode ter como consequências fraturas dos dentes ou de suas restaurações, levando à perda e necessidade de substituição por implantes.

Outro sintoma comum é o cansaço da musculatura da mastigação ao acordar. O cirurgião-dentista afirma que “para se ter uma ideia, é normal ficar por, no máximo, 40 minutos encostando os dentes um no outro. No bruxismo, a pessoa pode ficar de seis a oito horas mantendo este contato.” Para as articulações, o contato prolongado dos dentes causa uma pressão intramuscular acentuada que altera toda a viscosidade do líquido que lubrifica a articulação, levando, com o tempo, a uma degeneração articular que envolve uma série de perdas como desgaste das estruturas tanto ósseas quanto cartilaginosas. Funcionalmente, essas perdas vão gerar dificuldade para abrir e fechar a boca, perda da função mastigatória para determinados alimentos, dificuldade de manutenção da boca aberta e dor.

 

DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

A DTM pode ser definida como a dor articular ou muscular, ou a associação delas, nos músculos mastigatórios da mandíbula e na articulação temporomandibular.

O Dr. Felipe salienta que pacientes que apresentam dor orofacial, de forma geral, apresentam associação positiva com transtornos psiquiátricos como ansiedade, depressão profunda, estresse, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Além disso, outros fatores predisponentes para a DTM são: 

  • Presença de hábitos parafuncionais, principalmente o bruxismo;
  • Micro-traumas, ou seja, impactos recorrentes na região da face (comuns em quem faz artes marciais, por exemplo), que podem causar traumas dentro da articulação e, consequentemente, seu desarranjo;
  • Alterações do posicionamento dentário, como má oclusão, falta de dentes, toque errôneo entre os dentes;
  • Dor profunda em qualquer parte do corpo, que pode ser ponto de gatilho para a manifestação em outros locais, devido à tensão provocada pela dor.

A presença de um ou mais destes fatores pode levar ao desencadeamento da DTM. Os sintomas mais comuns são dor e dificuldade ao mastigar os alimentos, dor no ouvido, dor de cabeça.

As consequências da DTM são semelhantes às do bruxismo, como o desgaste dentário, má oclusão dos dentes, dificuldades na mastigação e na abertura e fechamento da boca. Somam-se a tudo isso, de forma significativa, os transtornos articulares que podem se tornar graves ao ponto de haver necessidade cirúrgica. Felizmente, os casos cirúrgicos representam 3% a 5% do total de casos de transtornos articulares.

 

PREVENÇÃO

É possível prevenir as consequências do bruxismo através de um trabalho cognitivo, explica o cirurgião-dentista. “Ficar livre do problema é impossível, mas diminuir o ato a ponto de o organismo entender aquilo como algo normal é possível. A maior parte das pessoas têm o bruxismo ao longo do dia. Por isso, com orientação, é possível fazer com que o paciente observe a sua rotina e entenda determinados gatilhos que ele pode corrigir e se policiar.”

Para a criança, o bruxismo está mais ligado à agitação da mente durante o sono. Usar eletrônicos antes de dormir, por exemplo, faz com que a criança tenha um sono mais agitado, podendo ser um fator gerador do hábito. Por isso, uma orientação importante é fazer a higiene do sono, evitando o uso de telas duas horas antes de ir para a cama.

No caso da DTM, a prevenção passa, principalmente, pelo cuidado com a saúde mental, já que grande parte dos casos está associada a questões emocionais. Segundo o Dr. Felipe, em sua percepção como clínico, por exemplo, houve um aumento significativo do atendimento para tratamento tanto da dor orofacial quanto da fratura de dentes após a pandemia de covid-19, provavelmente relacionado à ansiedade e estresse vivenciados no período.

 

 

TRATAMENTOS

O tratamento do bruxismo é uma associação do trabalho cognitivo com o uso de placas miorelaxantes rígidas de acrílico. Nos momentos em que o bruxismo está mais ativo, essas placas têm a função de desprogramar o ato involuntário de apertar ou ranger os dentes. O cirurgião-dentista ressalta que as placas de silicone são totalmente contraindicadas para os casos de bruxismo.

Ele explica que ao tocar o dente na placa rígida, o organismo interpreta que é preciso afastar os dentes. Já no caso da placa de silicone, que é macia, a reação é de apertar ainda mais os dentes, como se estivesse mastigando um chiclete. Em pacientes mais graves, pode-se associar ao tratamento o uso da toxina botulínica, com o intuito de evitar que o músculo se contraia.

O tratamento da DTM é multidisciplinar e interdisciplinar, podendo incluir diversas abordagens como uso de medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios, miorelaxantes e outros, laserterapia, estimulação elétrica transcutânea (TENS), ajustes do engrenamento dentário, placas miorelaxantes, acupuntura, atividade física, atendimento psiquiátrico e psicológico, fisioterapia, orientações quanto à dieta, além de procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos até os mais complexos.

 

Fontes:

Sociedade Brasileira de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial

Secretaria de Saúde do Distrito Federal