A cefaleia, ou dor de cabeça, é uma queixa comum que afeta mais da metade da população global. No Brasil, estimativas da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCE) apontam que cerca de 140 milhões de brasileiros sofrem com dores de cabeça, que são responsáveis por, aproximadamente, 10% das consultas em unidades básicas de saúde. Do total de casos no mundo, em torno de 14% são relacionados à enxaqueca, principalmente entre as mulheres.

Segundo a Dra. Natália Menezes, médica da atenção primária do programa Integração Saúde, no Vale do Aço, “a cefaleia é, sem dúvida, uma das queixas mais frequentes no consultório médico, com grande impacto socioeconômico, especialmente, em relação ao absenteísmo no trabalho. Ela pode ser episódica ou contínua e costuma causar grande preocupação aos pacientes devido às limitações que muitas vezes provocam.”

Dores de cabeça podem ocorrer em pessoas de todas as idades, desde o nascimento, e podem ser originadas por mais de 200 condições clínicas diferentes. Elas podem ser classificadas, segundo suas causas determinantes, em cefaleias primárias ou secundárias

 

Cefaleia primária

É quando a dor de cabeça é o principal ou único sintoma. Existem inúmeros tipos, porém, os mais comuns são a cefaleia tensional e a enxaqueca ou migrânea.

A dor de cabeça do tipo tensional é a mais frequente na população, desencadeada, principalmente, por cansaço e estresse emocional. É uma dor como pressão ou aperto, bilateral, de intensidade leve ou moderada, que se manifesta na testa, na nuca ou na parte de cima da cabeça.  A duração da crise varia bastante e, em geral, não impede que a pessoa exerça suas atividades rotineiras.

Já a enxaqueca é a cefaleia de maior relevância no Brasil, segundo estudos do Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, e é mais comum nas mulheres. É caracterizada por dor de intensidade moderada a forte, unilateral e latejante, frequentemente agravada por exposição à luz, barulho e cheiros, além de tonturas, náuseas e, às vezes, vômitos. As crises podem surgir em qualquer idade, mas é mais comum terem início na adolescência. Podem durar de algumas horas a vários dias. A enxaqueca também pode ser desencadeada por diversas condições como depressão, ansiedade e distúrbios de sono. Existem vários tipos de enxaqueca que, de acordo com a frequência e intensidade da dor, demandam abordagens diferentes.

 

Cefaleia secundária

É um sintoma que pode estar presente em variados quadros clínicos como, por exemplo, infecções bacterianas e virais (sinusite, meningite, encefalite, gripes e resfriados, entre outras) fibromialgia, aneurismas e tumores cerebrais, acidente vascular encefálico, hipóxia cerebral, lesões cranianas, distúrbios oftalmológicos e do ouvido, uso de certos medicamentos entre outros. Nesses casos, geralmente está associada a outros sintomas, o que normalmente preocupa mais as pessoas e as faz procurar um médico mais rapidamente.

A cefaleia secundária pode ainda ser causada ou mantida pelo uso excessivo de analgésicos comuns usados para tratar a própria cefaleia primária. O tratamento consiste na suspensão dos mesmos e uso, se necessário, de anti-inflamatórios. O diagnóstico e o tratamento devem ser orientados pelo médico, a partir da história clínica do paciente.

 

Diagnóstico: a APS é o caminho

A gravidade da dor de cabeça é avaliada por suas causas e pelo impacto na vida do indivíduo. Alguns doentes são escravos da dor, limitando suas vidas, tornando-se dependentes de analgésicos e sofrendo as consequências físicas e comportamentais. Por isso, é importante buscar o diagnóstico e tratamento adequados a cada quadro clínico.

A Atenção Primária à Saúde é a assistência indicada para esse cuidado, pois a identificação dos diferentes tipos de cefaleia começa pelo levantamento da história do paciente e pelo exame clínico geral e neurológico básico. Para a Dra. Natália, “o primeiro passo é procurar o médico de referência para realizar o chamado diário da cefaleia e, assim, associado ao exame físico, definir qual tipo, propedêutica e tratamento a ser realizado.” Em casos específicos pode ser indicada a consulta a especialistas ou realização de exames complementares.

A médica ressalta a importância de reconhecer os sinais de alerta, os chamados “red flags”, que diferenciam a cefaleia primária da secundária e que merecem atenção especial:

 

  • Dor com início repentino/abrupto (“pior dor da vida”);
  • Mudança no padrão da dor em pessoas que já costumam ter dor de cabeça;
  • Idades extremas: menores de 5 anos e maiores de 50 anos;
  • Dor que acorda a pessoa;
  • Sinais neurológicos associados à dor como confusão mental, alteração do nível de consciência.

 

Fique atento:  é importante buscar assistência médica imediata em casos de dor de cabeça forte, que surge de repente ou persiste por dias, que não cede com o uso de analgésicos comuns e está associada a sintomas como confusão mental, sonolência, febre alta, desmaios, convulsões, rigidez da nuca, vômitos ou alterações motoras.

Tratamento e prevenção

“O tratamento é sempre individualizado, não devendo o paciente se automedicar”, reforça a Dra. Natália. Para as cefaleias primárias, é fundamental a orientação médica quanto à medicação mais indicada. O tratamento das cefaleias secundárias é feito pelo controle das enfermidades às quais elas estão associadas.

Por outro lado, mudanças no estilo de vida que ajudem a controlar a tensão e o estresse, assim como a prática de exercícios físicos e de relaxamento são medidas importantes tanto para a prevenção quanto para o alívio das dores de cabeça.