De acordo com a Dra. Márcia Delamain, médica hematologista e responsável técnica do banco de sangue Vita Hemoterapia, muitas pessoas que poderiam se tornar doadoras ainda não o fazem por medo de contrair doenças, aliado à falta de esclarecimentos sobre o procedimento. Mas, segundo ela, os cuidados dispensados pelas clínicas que colhem o sangue são extremamente rigorosos. Os profissionais são capacitados para fazer a coleta de forma confortável e segura, a assepsia é adequada, todo o material utilizado é estéril e descartável, o que garante que não haja nenhum tipo de contaminação.

50 minutos que salvam até 4 vidas

Não é preciso ter muito tempo. O doador pode agendar a coleta e o tempo de permanência no hemocentro é de aproximadamente 40 a 50 minutos. Nesse período, ele passa por várias etapas. Após o cadastro, é feita uma triagem clínica por médico ou enfermeiro. Além da avaliação das condições de saúde, aferição de pressão, temperatura, frequência cardíaca e índice de hemoglobina, a triagem é o momento de uma conversa, com total privacidade, para identificar condições de risco, pois existem impedimentos definitivos e temporários para a doação.

Estando apto a continuar, o doador realiza a higienização dos braços e é direcionado para a coleta, que dura apenas cerca de 8 a 12 minutos. São coletados, no máximo, 450 ml de sangue. Ao finalizar, o doador precisa aguardar um tempo em observação e depois faz um lanche antes de ser liberado.

Uma amostra do material coletado é retirada para a identificação do tipo sanguíneo e realização de exames de triagem sorológica, que inclui testes para doenças como hepatites B e C, HIV, sífilis, HTLV, pesquisa de hemoglobina S e rastreio de anemia falciforme. Somente com todos os resultados negativos, o sangue pode ser utilizado nas transfusões.

O doador tem acesso a todos os resultados considerados normais. Havendo qualquer resultado positivo, ele recebe em casa uma comunicação para retornar ao hemocentro, onde passará por uma consulta para ser informado e orientado quanto à alteração apresentada nos exames. De acordo com os dados do banco de sangue Vita Hemoterapia, apenas 1,5% das cerca de 2.600 coletas realizadas por mês apontam resultados positivos. Isso se deve, em grande parte, segundo a hematologista, à efetividade da triagem clínica, ao maior acesso à informação e conscientização do doador.

Dra. Márcia Delamain, médica hematologista e responsável técnica do banco de sangue Vita Hemoterapia. Foto: divulgação. 

 Mesmo não sendo o objetivo do trabalho realizado pelos hemocentros, há,    indiretamente, uma contrapartida para o doador, que precisa ser bem acolhido e bem  cuidado para garantir a sua segurança e a de quem recebe a transfusão. Assim, ao se  tornar um doador de sangue, o indivíduo  tem a cada doação o acompanhamento de  seu estado geral de saúde.

 “A ideia não é fornecer diagnósticos, mas a avaliação das condições de saúde do  doador é um alerta para que ele possa se cuidar e se perceber melhor.” 

 

 

Contudo, a doação, explica a Dra. Márcia, é um ato de solidariedade, voluntário e altruísta, cuja recompensa é o bem que é feito a quem precisa. O sangue doado é fundamental para salvar vidas de pessoas que estão em condições de saúde vulneráveis. Cada doação pode ajudar a salvar três ou até quatro vidas.

Por que a regularidade nas doações é importante?

O sangue é perecível e não pode ser estocado por grandes períodos. Ele é fracionado e cada hemocomponente tem prazo de validade diferente. As hemácias, por exemplo, que têm a maior demanda de utilização, duram cerca de 35 dias em geladeira. Por isso é tão importante que haja regularidade nas doações. O intervalo entre uma doação de sangue e outra pode ser de dois meses para os homens (quatro doações anuais) e de três para as mulheres (três doações anuais).

Mas há épocas do ano em que os estoques ficam críticos porque as doações caem muito. Feriados prolongados como carnaval, natal e ano novo e períodos de férias são um desafio para a manutenção dos bancos de sangue. Mas, diz a médica, nada se compara ao período mais grave da pandemia de covid-19, em que as doações de sangue caíram drasticamente.

A Dra. Márcia salienta que a vida de muitas pessoas depende do sangue doado. Pacientes oncológicos, com doenças hematológicas, submetidos a cirurgias, transplantes, entre outros, necessitam de transfusões e não podem esperar. É o caso da beneficiária da Copass Saúde, Maria Lúcia Lima e Silva Milton, de 74 anos. No final de 2021, ela foi diagnosticada com mielodisplasia e, desde então, precisa fazer transfusões de sangue a cada 15 dias enquanto aguarda por um transplante de medula óssea.  Ela afirma que se sente muito grata às pessoas que se dispõem a doar sangue porque a transfusão é a única saída que ela e muitos outros pacientes têm. “Graças à solidariedade dessas pessoas é que estou viva para esperar pelo transplante.”

O que é preciso para doar sangue:

. Ter entre 16 e 69 anos (menores de idade precisar de autorização dos pais);

. Pesar acima de 50 quilos;

. Respeitar o intervalo de 60 dias e quatro doações anuais para homens ou 90 dias e três doações anuais para mulheres;

. Não estar em jejum, porém sem consumo de alimentos gordurosos nas três horas antes da doação;

. Não ter recebido transfusão de sangue ou derivados há menos de um ano;

. Não ter apresentado sintomas gripais, febre ou diarreia nos últimos 14 dias.

Mitos e verdades:

Existem informações que precisam ser esclarecidas em relação à doação de sangue:

. Mulheres podem doar sangue durante o período menstrual. A perda de sangue que ocorre durante a menstruação já é prevista pelo corpo, que está adaptado a fazer a reposição necessária;

. Grávidas não podem doar sangue durante a gestação. É preciso aguardar ainda três meses após o parto ou 12 meses, se estiver amamentando;

. Não pode ingerir bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores à doação;

. Quem teve covid-19 pode doar sangue. Pessoas com diagnóstico positivo ou suspeita da doença estão aptas a doar após 10 dias da completa recuperação;

. Quem tem tatuagem, piercing ou maquiagem definitiva pode doar sangue. É preciso aguardar apenas seis meses após a realização do procedimento para se candidatar à doação;

. Doar sangue não engorda nem emagrece;

. Não se contrai doenças ao doar sangue. Todo o material utilizado é estéril e descartável e não há, portanto, contato com o sangue de outra pessoa;

. A quantidade de sangue coletada a cada doação não afeta a saúde. Todo volume coletado é reposto naturalmente pelo organismo.

 

Fontes:

Fundação Hemominas

Vita Hemoterapia – Material informativo