O Outubro Rosa surgiu com o objetivo de conscientizar a mulher  e a sociedade sobre importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.  Atualmente, a campanha, criada no início da década de 1990, estende a mobilização para outros tipos de câncer que acometem as mulheres, com o de colo de útero.

Em entrevista, o oncologista Amândio Soares Fernandes Júnior, sócio-fundador da Oncomed, clínica credenciada pela Copass Saúde, fala sobre o câncer na mulher e os cuidados essenciais para a prevenção, diagnóstico e tratamento adequados.

Qual a importância do câncer de mama como foco da campanha Outubro Rosa?

O câncer de mama representa em torno de 25% de todos os cânceres da mulher. Uma em cada dez mulheres vai ter câncer de mama. A campanha é fundamental porque com a prevenção é possível evitar o surgimento da doença e com o diagnóstico precoce aumentam muito as chances de cura da paciente.

Quais os principais fatores de risco?

Costumo dizer que o primeiro fator de risco é ser mulher porque a doença pode também acometer o homem, evidentemente, numa proporção bem menor. Contudo, a  idade da mulher é um dos fatores de risco mais prevalentes. A idade média de desenvolvimento do câncer de mama é em torno de 62 a 65 anos.

O câncer, de maneira geral, é uma doença do idoso. Mas temos visto muitos casos em pacientes mais jovens, provavelmente devido ao estilo de vida, fator de risco ambiental importante. Sedentarismo, alimentação inadequada, obesidade e uso de bebida alcoólica estão relacionados ao desenvolvimento do câncer de mama.

Além disso, no passado, as mulheres já estavam com toda a prole constituída aos 29, 30 anos e normalmente tinham muitos filhos. Hoje, as gestações cada vez mais tardias, típicas do estilo de vida “moderno” são um fator de risco para o câncer. Há fatores hormonais que protegem ou aumentam os riscos para a doença: a primeira gestação tardia, a primeira menstruação precoce e a última menstruação tardia são fatores de risco. A reposição hormonal por longos períodos também eleva as chances de desenvolver o câncer de mama. Por outro lado, amamentar os filhos é um fator de proteção.

A hereditariedade também é fator de risco, mas, apesar de ser um dos motivos de maior preocupação para muitas pessoas, é responsável  apenas em torno de 5 a 10% dos casos.

Como é feita a prevenção?

A prevenção é dividida em dois tipos principais: a primária consiste em afastar os fatores que predispõem ao risco do câncer. Por exemplo: quando a mulher faz atividade física regularmente, de preferência aeróbica, como caminhada, ela diminui o risco de câncer de mama em 20 a 30%. A alimentação adequada, evitando a obesidade, também reduz o risco em torno de 20%.

Já a prevenção secundária é quando se tem o diagnóstico precoce. E a melhor forma de fazer isso é a mulher, a partir de 40 anos de idade fazer a mamografia convencional anualmente para que se possa detectar pequenas alterações, microcalcificações na mama antes que elas sejam palpáveis. Com isso, é possível diminuir muito o risco de mortalidade e aumentar as chances de cura. Além disso, a mulher pode ser submetida a um tratamento menos agressivo e com menos consequências.

O autoexame também pode contribuir para o diagnóstico porque é importante que a mulher conheça sua mama para perceber qualquer alteração, mas o ideal é que a doença seja diagnosticada antes que o nódulo seja palpável.

De modo geral, como é feito o tratamento?

O tratamento cirúrgico já passou por grandes avanços. Hoje, temos técnicas cada vez mais apuradas, com cirurgias menos agressivas e menos mutilantes, ao ponto de, principalmente quando a doença é diagnosticada em fase inicial, o resultado da cirurgia ser tão bom que se a paciente não for examinada por um especialista, nem se percebe que ela fez tratamento de câncer de mama. Isso mantém a autoestima da mulher, que é extremamente importante.

Além do tratamento cirúrgico, é comum que a paciente tenha que se submeter à radioterapia. Essa complementação do tratamento local é necessária quando se faz uma cirurgia conservadora, ou seja, que não retira toda a mama, o que acontece na maioria dos casos hoje.  A radioterapia é indicada para evitar recidiva, que é o reaparecimento do câncer. A quimioterapia oral também pode beneficiar a paciente em determinadas situações.

O tratamento sistêmico é um avanço. Num passado recente, tratava-se o câncer de mama como uma doença única. Hoje sabemos que existem diversos subtipos da doença, com comportamentos biológicos diferentes. Isso implica em abordagens diversas e tratamentoe individualizad. Com isso, tipos de câncer que antes eram considerados mais agressivos podem ser tratados com terapias específicas e alcançar resultados extremamente satisfatórios.

Como é feito o controle após o tratamento?

Após o tratamento do câncer de mama, a mulher precisa manter o acompanhamento com o médico periodicamente. É preciso que sejam realizados exames complementares de acordo com a necessidade, com intervalos que variam de acordo com o tempo após o tratamento e de forma individualizada. Quanto mais o tempo passa,  menor é o risco de recidivas.  Um exame essencial é a mamografia porque se a mulher já teve o câncer em uma mama, nada impede que ela tenha a doença na outra mama.

Que outros tipos de câncer necessitam de atenção especial?

O câncer de colo de útero também é um dos mais frequentes na mulher e não se pode descuidar da prevenção. Felizmente, sua incidência vem diminuindo graças à disseminação das medidas preventivas como a consulta ginecológica anual, exame Papanicolau e a adesão à vacinação contra o papilomavírus humano (HPV).  Mas há questões socioeconômicas marcantes na redução do número de casos e, por isso, em algumas regiões do Brasil ele ainda mantém alta incidência.