É o que explica Fernanda Maurício Simões, pedagoga e instrutora de mindfulness – uma das técnicas de meditação mais pesquisadas e acessíveis. Segundo ela, assim como trabalhamos os músculos na academia, podemos trabalhar o foco no presente. O objetivo principal não é relaxamento, como muitos pensam, e, sim, desenvolver a capacidade de atenção plena. Na pressa do cotidiano, as pessoas tendem a agir no “piloto automático”, sem consciência do que está acontecendo no momento, ruminando os acontecimentos do passado ou planejando o futuro. Isso faz com que percam a oportunidade de se conhecer melhor para viver com plenitude o presente.

Ao se observar no momento que está vivendo, através da percepção das sensações corporais e da atividade mental, a pessoa consegue desenvolver outro tipo de relação com o universo à sua volta, agindo de forma mais consciente e atenta. Fernanda ressalta que não é qualquer tipo de atenção. “É se tornar um observador externo da própria experiência, desenvolvendo uma atitude alerta, de não julgamento, aceitação, autocompaixão e gentileza para consigo.

Especialmente neste momento de pandemia, em que o estresse nas relações de trabalho e familiares e a ansiedade estão em alta, a meditação vem despontando como uma forma de maior controle do próprio comportamento. Segundo ela, o isolamento gera uma estafa mental que faz realçarem aspectos que a pessoa não percebia nela mesma. “Para enfrentar os desafios dessa realidade, as pessoas estão buscando na prática uma aceitação mais gentil do presente, o que auxilia a vivenciar situações estressantes com mais tranquilidade."

Apesar de não ser um objetivo, o relaxamento é um dos vários benefícios da meditação. A prática também traz consciência corporal e autoconhecimento; maior foco e concentração; melhora a qualidade do sono e da relação com a alimentação, aumenta o autocuidado. Além disso, desenvolve a capacidade de empatia, fazendo com que a pessoa perceba também o outro com mais atenção.

Para Fernanda, todos têm a capacidade de meditar, mas é algo que requer treinamento e dedicação. É preciso criar o hábito para incorporar no cotidiano. E isso é um processo bem individual, pois cada um tem o seu tempo. Ela afirma que pessoas com característica mais autodidata conseguem praticar a meditação sozinhas, através de diversas ferramentas disponíveis on-line, o que exige mais disciplina e empenho.  Contudo, “para quem nunca praticou, o ideal é participar de um grupo ou treinamento, onde alguém capacitado oriente a prática para que isso se torne mais solidificado na vida da pessoa”, salienta.

Com a prática regular o processo torna-se mais natural,  aumentando a qualidade de vida. O mindfulness, embora oriundo de tradições budistas, não tem ligação com religião e seus resultados têm sido amplamente estudados, adquirindo base científica e sendo cada vez mais indicado, principalmente para alívio do estresse. Afinal, conhecer bem a interligação entre a mente e o corpo e despertar os sentidos para entender nossas emoções pode ser o melhor caminho para ter uma boa relação com o presente, mesmo diante de tempos difíceis.