De acordo com Daisy Motta Santos, profissional de Educação Física, doutora em Fisiologia e orientadora do programa de mestrado em Ciências do Esporte da UFMG, as principais capacidades físicas são força, resistência (condicionamento aeróbico) e flexibilidade. Elas podem afetar a nossa qualidade de vida e para mantê-las, o exercício físico deve ter prescrição adequada, considerando as necessidades individuais.

Para alcançar níveis apropriados de benefícios para o  nosso organismo - segundo as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS), atualizadas em 2020 -, a prática regular de atividade física recomendada é de 150 a 300 minutos de intensidade moderada por semana. Isso representa, aproximadamente, 45 minutos, três vezes por semana. A diferença das novas diretrizes é que, antes, considerava-se necessário pelo menos 10 minutos contínuos de atividade física para obter resultados. Agora, os novos estudos entendem que esta atividade pode ser fragmentada de várias formas ao longo do dia, dentro do tempo mínimo total recomendado. Essa mudança facilita a prática porque mostra que a pessoa pode fazer pequenos intervalos entre suas atividades diárias para a realização de exercícios físicos e alcançar grandes benefícios.

Daisy ressalta que é preciso ter cuidado com a periodicidade semanal e sugere que o estímulo físico não aconteça em intervalos de tempo muito distantes. Um exemplo para não seguir é o chamado “atleta de fim de semana”, aquela pessoa que fica sedentária durante a semana e faz exercícios durante um tempo prolongado, apenas no sábado ou domingo. Apesar de “pouco ser melhor do que nada” as adaptações que ocorrem no corpo precisam de intervalos específicos, dependendo do objetivo da pessoa. e não deveriam se limitar a apenas um dia na semana.

É importante encaixar o exercício físico na rotina e criar o hábito. Uma das recomendações é definir metas a seguir. E quem é sedentário precisa ir aos poucos, para o corpo se acostumar. Mas não pode estagnar. Por isso é tão importante, segundo Daisy, ter acompanhamento profissional. Para alcançar os objetivos desejados, é necessário ir mudando o estímulo para ter progressão e periodicidade adequadas.

A questão da motivação é essencial para interromper o comportamento sedentário. Ela é individual e pode sofrer alterações por vários fatores. A pessoa tem que ter um objetivo para conseguir criar o hábito do exercício físico regular. Daisy afirma que é importante visar a saúde em primeiro lugar.  “Estamos envelhecendo o tempo todo e para que isso aconteça com saúde a pessoa precisa se movimentar. Um bom condicionamento físico ao longo dos anos pode contribuir para que o idoso seja menos dependente, tome menos remédios e tenha mais qualidade de vida.”

O peso corporal, outro grande motivador da prática de atividade física, pode ser enganoso porque a ligação entre peso normal e ausência de problemas de saúde é relativa. Muitas vezes, pessoas magras e sedentárias podem apresentar problemas de saúde tanto quanto as que estão com excesso de peso, afirma a profissional de Educação Física.

Os benefícios são para todo o corpo e para a saúde mental. Manter-se ativo pode melhorar a depressão e a ansiedade. Além disso, Daisy explica que estudos recentes mostram que quando o músculo é contraído, o organismo libera milhares de substâncias conhecidas como “exercinas”, que afetam diversos órgãos e sistemas.

O coração é um dos principais beneficiados. Com a atividade física, a função cardiovascular é melhorada. Daisy explica que o coração de uma pessoa treinada fisicamente fica maior, recebe mais sangue e leva mais oxigênio ao organismo, com menos esforço. O exercício  melhora a função dos vasos sanguíneos, o que pode reduzir o risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

O exercício físico também melhora as funções hepática e intestinal, reduz a inflamação no tecido adiposo, entre outros inúmeros efeitos que ainda estão sendo descobertos. Outro benefício comprovado  é o efeito antienvelhecimento. Ele protege o DNA contra o envelhecimento, ou seja, a célula de uma pessoa que pratica exercícios físicos é mais jovem e funciona de forma mais eficiente do que a de um sedentário.

Daisy, que acompanha os mais diversos estudos sobre a influência da atividade física na saúde, relata alguns dados interessantes. Segundo ela, estudos feitos com animais indicam que os benefícios da prática regular de exercícios físicos podem ser transgeracionais, ou seja, passar para as futuras gerações daquele indivíduo. Outro estudo revela que um histórico de atividade física regular na infância e adolescência pode proteger a pessoa de determinados tipos de câncer na vida adulta.

O importante é não ficar parado. Nesse período de pandemia, que se tornou mais longo do que se esperava, é preciso se adaptar. O ideal, segundo Daisy, é buscar ajuda profissional para ter aulas on-line, em grupo ou individuais, e se identificar com o tipo de atividade, fazendo algo que dê prazer. O exercício  melhora todos os aspectos físicos do organismo que a covid-19 ataca. Estatísticas mostram, inclusive, que pessoas com atividade física regular podem ter uma menor prevalência de hospitalização pela doença, comparando com pessoas sedentárias.

Por outro lado, Daisy ressalta que para a pessoa diagnosticada com a covid-19, mesmo assintomática, a recomendação é interromper a atividade física por pelo menos sete ou até 14 dias (dependendo da diretriz). Isso porque o exercício, mesmo leve, pode ser um estresse para o organismo infectado, pois ele precisa, naquele momento, se recuperar da infecção pelo vírus, que pode, inclusive, provocar sequelas e alterações tardias. Para voltar a se exercitar com segurança, Daisy recomenda que a pessoa busque orientação e acompanhamento médico.