Obesidade é uma doença crônica que tende a piorar com o passar dos anos, se não tratada de forma adequada e contínua. Além de afetar a qualidade de vida e as relações sociais, predispõe o indivíduo a diversas doenças. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o aumento do índice de massa corporal (IMC), principalmente em obesos com IMC maior que 30 kg/m2, um dos maiores problemas de saúde pública do mundo. A nutricionista da Clínica DOC, do Programa Integração Saúde em Belo Horizonte, Marjory Gomes, fala sobre as causas, formas de prevenção e tratamento da doença:


- Quais os riscos da obesidade para a saúde?

Aumento do risco de doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares, de diversos tipos de câncer, de problemas ortopédicos. A obesidade também afeta a saúde emocional, pois compromete as relações sociais e a autoestima, causando isolamento, perda de interesse pelo convívio social, depressão, entre outros.

 

 

 

 


- Quais as principais causas da obesidade?

Há vários fatores que podem contribuir para o ganho de peso. Os principais são os hábitos comportamentais. Consumo em excesso de alimentos ultraprocessados e ricos em açúcares e gordura, o sedentarismo, além de questões emocionais como alto nível de estresse e ansiedade. Há também fatores genéticos associados, assim, filhos de pais obesos têm maior predisposição para o ganho de peso. Contudo, esse fator genético tem menos influência para uma pessoa que tem predisposição, mas investe em hábitos de vida saudáveis.


- Existem fatores de risco para o desenvolvimento da obesidade?

O uso de determinados medicamentos pode contribuir para o ganho de peso do paciente, enquanto ele estiver em tratamento, como alguns antidepressivos. O hipotireoidismo, quando não tratado de forma adequada, também pode afetar o peso do paciente devido a questões hormonais.


- Por que algumas pessoas têm maior dificuldade para emagrecer ou manter o peso?

Essa é uma questão muito individual e complexa. Assim como o ganho de peso é multifatorial, a perda de peso também pode estar relacionada a vários fatores. Fisiologicamente, pode ser porque a pessoa teve uma dieta muito restritiva ao longo da vida, contribuindo para a diminuição da taxa metabólica basal (TMB) e alteração do metabolismo, além da perda inadequada de massa muscular, o que faz com que ela gaste menos energia, tornando a perda de peso mais lenta. Mas somente a partir de uma avaliação individual é possível entender o que dificulta o emagrecimento do paciente.


- A alimentação inadequada é o principal fator causador da obesidade?

Sim. A alimentação é a principal responsável pela manutenção do peso. O exercício físico vem para somar, para aumentar o gasto energético e trazer sensação de bem-estar, mas a dieta equilibrada é a base da prevenção e do tratamento. Hoje temos à disposição muitos alimentos
ultraprocessados, com pouco volume e alta densidade calórica, que superam com facilidade o gasto energético de quem consome, provocando o aumento de peso.


- O que você considera como alimentação ideal?

Uma dieta que tem como base alimentos in natura, que são as frutas, legumes e verduras; rica em fibras, cereais, que geram mais saciedade; fontes de proteínas que tenham menos gordura, como cortes magros de carnes, ovos, que auxiliam na manutenção da massa muscular e geram saciedade.

 

- Por que é importante manter uma rotina de horários para a alimentação e qual o intervalo indicado?

Ter horários estabelecidos é fundamental tanto para criar uma rotina para o organismo quanto para garantir que a pessoa sinta menos fome antes das refeições, o que facilita que ela faça escolhas melhores dos alimentos e possa comer com mais tranquilidade. Em relação aos intervalos entre as refeições, não há uma regra, mas, especialmente para quem tem um quadro de obesidade, é mais recomendado a cada três horas para auxiliar no controle da fome e na adaptação do organismo.


- Dietas da moda podem ser eficientes no combate à obesidade?

Dietas muito restritivas podem até prejudicar o metabolismo do paciente. Há uma diferença entre perda de peso e emagrecimento. Normalmente, as dietas restritivas levam à perda de peso mais rápida, mas com a eliminação de muita água e músculos, ou seja, a pessoa emagrece sem qualidade, o que não se sustenta por muito tempo.


- Quando os medicamentos para emagrecer são indicados?


Normalmente, o uso de medicamentos é indicado de acordo com o grau de obesidade e com o perfil de cada paciente. O medicamento pode ser necessário para ajudar no controle da ansiedade, diminuir o apetite e aumentar a sensação de saciedade. Nesses casos, é fundamental que o tratamento seja feito por uma equipe multidisciplinar e com acompanhamento adequado, para atuar de forma integrada e garantir que o uso da medicação seja benéfico e pelo tempo necessário.


- Como deve ser feito o tratamento multidisciplinar?

A equipe multidisciplinar é necessária devido à complexidade do tratamento, tanto para a mudança de hábitos quanto para a perda de peso. O ideal é como fazemos aqui na clínica, onde o paciente passa pela avaliação do médico, faz os exames preventivos de rotina e já avalia a necessidade de abordagem medicamentosa e encaminhamento para acompanhamento nutricional e psicológico. O trabalho precisa ser feito de forma integrada e individualizada, levando em conta todos os aspectos da vida do paciente. O acompanhamento pela equipe precisa ser permanente, mesmo após alcançar os objetivos, para a manutenção do peso.


- Quando é necessário buscar acompanhamento médico?

Não se deve esperar chegar ao nível de obesidade para buscar assistência. Quando a pessoa percebe que há um ganho de peso gradativo, aumento da vontade de comer mais alimentos doces e gordurosos, além de outros sinais como indisposição, falta de concentração, fadiga, insônia, já é hora de buscar auxílio profissional.


- Como prevenir a obesidade?

O cuidado preventivo é a chave para evitar a obesidade. É a receita de uma vida saudável para qualquer pessoa, independente do seu peso: manter os exames de rotina em dia, alimentação saudável, equilibrada e qualitativa, atividade física regular, sono adequado, reduzir os níveis de estresse. São recomendações que, dentro das limitações da rotina de cada pessoa, precisam ser inseridas como ideais para a sua qualidade de vida.