O excesso de peso ainda na infância é uma questão crescente e alarmante, que traz prejuízos ao longo de toda a vida e exige a atenção das famílias para mudanças comportamentais. 

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2020), considerando todas as crianças e adolescentes brasileiros, estima-se que, entre os menores de 10 anos, cerca de 6,4 milhões tenham excesso de peso e 3,1 milhões tenham obesidade. Entre os adolescentes, a estimativa é de que cerca de 11 milhões estejam com sobrepeso e 4,1 milhões tenham obesidade.

As projeções do Relatório Mundial da Obesidade (World Obesity Atlas 2022) mostram que, até 2030, o mundo passará por uma epidemia da doença e o Brasil terá 7,7 milhões de crianças obesas. Pelas estimativas, isso representará cerca de 23% das crianças entre 5 e 9 anos e 18% dos adolescentes de 10 a 19 anos.  

O excesso de peso pode ser gerado por múltiplos fatores e condições de saúde, inclusive hereditários, mas a grande maioria dos casos estão relacionados aos hábitos de vida. Segundo a Dra. Carolina Maziero Versiani, endocrinopediatra da Clínica Enfant, parceira do programa Vida Nova, “no geral, a obesidade das crianças reflete os hábitos dos pais. É raro uma família de pais magros e saudáveis ter filhos com sobrepeso importante ou obesidade.”

 

PRINCIPAL CAUSA

Sem dúvida, o maior fator de risco para a obesidade infantil é a alimentação inadequada, afirma a endocrinopediatra.  Um problema cada vez mais comum – e principal vilã - é a dieta rica em produtos industrializados e ultraprocessados, como salgadinhos, biscoitos recheados, bebidas adoçadas, guloseimas e fast foods, enfim, alimentos que são mais práticos para a rotina de muitas famílias.

A médica alerta que uma grande parcela de responsabilidade pela obesidade infantil se deve aos próprios pais. De forma geral, tudo que a criança come é oferecido por sua família.  É preciso se conscientizar, principalmente, sobre a importância de não ter em casa e não facilitar o consumo de alimentos prejudiciais, além de disponibilizar alimentos mais saudáveis para as crianças. A prevenção e o tratamento da obesidade dependem de uma atuação em conjunto com a família e o primeiro passo, em geral, é a correção das atitudes dos pais.

O sedentarismo na infância também contribui para a obesidade. A criança precisa ser ativa. A atividade física ajuda, principalmente, na consolidação de bons hábitos, mas é complementar a uma alimentação equilibrada.

 

CONSEQUÊNCIAS

As consequências da obesidade infantil são inúmeras e podem ser imediatas e em longo prazo.  Uma das principais consequências imediatas é relativa à autoestima, principalmente para adolescentes e pré-adolescentes. Eles sofrem com limitações, preconceitos, bullying nas escolas e podem desenvolver sintomas de ansiedade e depressão. Outra questão importante é que, principalmente nas meninas, a obesidade está relacionada à puberdade precoce e avanço da idade óssea, o que pode impactar o crescimento da criança e sua estatura final.

 Além disso, com o tempo,  o excesso de peso vai trazendo muitas outras comorbidades, que podem se iniciar tanto na infância como na idade adulta, como hipertensão, diabetes tipo 2, hipercolesterolemia/dislipidemia, distúrbios respiratórios, apneia obstrutiva do sono, osteoartrose, dificuldades de locomoção e outros problemas ortopédicos, entre outros. E todos estes fatores aumentam o risco para as doenças cardiovasculares, com acidente vascular cerebral e infarto.

 

OBESIDADE É COISA SÉRIA

É fundamental que os pais fiquem atentos à obesidade infantil. Segundo a Dra. Carolina, muitas famílias não se preocupam com o sobrepeso dos filhos, acreditando que é uma condição passageira. Mas a tendência é que cerca de metade dos adolescentes obesos e 1/3 das crianças obesas permaneçam nessa condição quando adultos. Por isso, é tão importante atuar ainda na infância e na adolescência quanto na fase adulta. Mesmo quando a pessoa, obesa durante a infância, consegue emagrecer ao ficar adulta, os riscos de problemas de saúde são reduzidos, mas ela carrega, física e mentalmente, as sequelas do sofrimento gerado pela obesidade enquanto era criança.

 

COMO PREVENIR

Os dois principais pilares da prevenção são:

. Alimentação saudável e equilibrada, rica em alimentos naturais, cereais integrais, frutas e vegetais;

. Atividade física regular. É recomendado pelo menos uma hora de atividade por dia, de acordo com a faixa etária. Crianças menores não precisam fazer exercícios programados, mas devem ser estimuladas a correr, pular, brincar.

 Além destes, a endocrinopediatra cita outros cuidados essenciais:

 . Reduzir o uso de telas. Crianças abaixo de dois anos não devem ser expostas às telas e, acima dessa idade, podem se expor, no máximo, duas horas por dia. Além das questões relacionadas ao neurodesenvolvimento, o uso excessivo das telas reduz o tempo de atividade da criança, favorecendo o sedentarismo.

. Promover um ambiente familiar saudável e uma rotina para a criança, com horários para as refeições, estudo, atividades extracurriculares, atividade física e lazer. Crianças que não têm uma rotina estabelecida, em geral, têm maior predisposição para desenvolver a obesidade.

. Manter um padrão de sono adequado, não somente em relação à quantidade de horas, mas também com horários para dormir e acordar próprios para a idade da criança. Uma boa rotina de sono é importante para a regulação hormonal e tem impacto sobre a obesidade.

ATENÇÃO NA HORA CERTA

Prevenir é mais importante do que tratar e o melhor momento para evitar a obesidade é a infância. E caso a criança já tenha sobrepeso, este também é o melhor momento para tratar e evitar que ela chegue à fase adulta com a mesma condição e suas complicações.

A médica ressalta que: “a obesidade pode ser um problema para a vida inteira da pessoa. Além de estar associada às diversas comorbidades já relatadas, ela tem impacto em todas as áreas de relacionamento do indivíduo, trazendo inúmeros outros desafios para o paciente ao longo de sua vida. Por isso, é muito importante que as famílias das crianças e adolescentes com excesso de peso se conscientizem para necessidade de ajustar hábitos e atuar desde a infância.”