O HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano) é uma infecção viral, mais comum no trato reprodutivo. Existem mais de 100 tipos de HPV, porém alguns são mais frequentes e responsáveis pela maioria das doenças relacionadas à infecção, podendo causar desde verrugas até cânceres.

Segundo o Instituto Butantan, estima-se que haja entre 9 e 10 milhões de pessoas infectadas pelo HPV no Brasil e que surjam 700 mil novos casos de infecção por ano. Estudos indicam que cerca de 80% da população sexualmente ativa deve ser infectada pelo vírus em algum momento de sua vida.

De acordo com a Dra. Melissa Lopez Carrasco, médica de Família e Comunidade da Clínica Doc, do programa Integração Saúde, em Belo Horizonte, a principal forma de transmissão do HPV é pela via sexual, incluindo contato oral ou mesmo manual–genital. Portanto, o sexo com penetração não é necessário para ocorrer a transmissão.

SINTOMAS E DIAGNÓSTICO

A infecção por HPV não apresenta sintomas para a maioria das pessoas. Em alguns casos o HPV pode ficar latente de meses a anos, sem apresentar sinais ou manifestações não visuais a olho nu. A Dra. Melissa explica que a maioria das infecções tem resolução espontânea, pelo próprio organismo, e pode desaparecer em até 24 meses. Contudo, as lesões provocadas pelo vírus podem evoluir para doenças graves, sendo o câncer de colo do útero uma das principais.

O diagnóstico do HPV, atualmente, é realizado por meio de exames clínicos ou laboratoriais, dependendo do tipo da lesão. As verrugas características da infecção pelo HPV, em homens e mulheres, são facilmente diagnosticadas durante o exame clínico. Já algumas lesões subclínicas, ou seja, que não são visíveis a olho nu, podem ser diagnosticadas pelo exame preventivo do câncer de colo de útero (Papanicolau). O Ministério da Saúde recomenda a realização do exame preventivo periódico para as mulheres de 25 a 64 anos de idade.

IMPORTÂNCIA DA VACINA

A vacina é o método mais eficaz de prevenir a infecção pelo HPV. O imunizante não previne contra todos os tipos do vírus, que são muitos, mas é dirigido para os quatro mais frequentes: os tipos 6 e 11, que são causadores das verrugas anogenitais, e os tipos 16 e 18, causadores de cânceres como o de colo do útero. A vacina também protege contra câncer de vulva, vagina, peniano, anal e de orofaringe.

A médica afirma que estudos comprovam a eficácia da vacina mesmo em pessoas que já tiveram contato com vários tipos de HPV, inclusive as que já apresentaram lesões causadas pela infecção. Nesses casos, o imunizante diminui as recidivas, que seriam o retorno da infecção. Ela ressalta que a vacina contra o HPV, em qualquer idade, não substitui as ações de promoção da saúde, como manter o rastreamento do câncer de colo de útero, de acordo com a faixa etária indicada.

QUEM PODE TOMAR A VACINA E COMO ELA ESTÁ DISPONÍVEL

No Brasil, a vacina contra o HPV é liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para homens e mulheres entre 9 e 45 anos. No Sistema Único de Saúde (SUS), a vacina é disponibilizada para meninos e meninas de 9 a 14 anos, além de homens e mulheres de 9 a 45 anos que sejam transplantados de órgãos sólidos de medula óssea, pacientes oncológicos em uso de quimioterapia ou radioterapia, imunossuprimidos por doenças e/ou tratamentos com drogas imunossupressoras, pessoas que vivem com HIV ou aids e vítimas de violência sexual.

“A população de 9 a 14 anos é priorizada com o intuito de proteger as pessoas antes do início da atividade sexual, principal via de contágio, evitando a infecção pelo vírus e a sua transmissão para os(as) parceiros(as).  Também, nesses casos, a produção de anticorpos é muito maior do que em uma pessoa que já foi exposta ao HPV, o que torna a imunização mais eficiente”, diz a médica.

Para as pessoas não contempladas pelo SUS, a vacina é disponibilizada na rede privada. Os beneficiários da Copass Saúde têm cobertura para a vacina contra o HPV a partir dos 14 anos para o sexo masculino e a partir dos 15 anos para o sexo feminino. Clique aqui para saber mais detalhes sobre a cobertura vacinal.

As vacinas não devem ser aplicadas em mulheres grávidas, pessoas alérgicas a qualquer um dos componentes ou que sofreram algum tipo de reação alérgica após receber a primeira dose.

Esquema vacinal

- Meninas e meninos de 9 a 14 anos - duas doses, com intervalo de seis meses (0 - 6 meses);

- A partir de 15 anos: três doses, com intervalos de um a dois meses entre a primeira e a segunda e de seis meses entre a terceira e a primeira (0 - 1 a 2 - 6 meses).

 

VACINAÇÃO ABAIXO DA META

A meta do Ministério da Saúde é vacinar 80% da população elegível, mas os números estão abaixo do esperado.  Segundo o Instituto Butantan, o índice de vacinação contra o HPV em adolescentes brasileiros atinge apenas 57% das meninas e 37% dos meninos, quando o ideal é alcançar uma cobertura vacinal de 90%.

A baixa adesão à vacinação é uma triste realidade, não só contra o HPV, mas em relação aos imunizantes disponíveis de forma geral. Para a Dra. Melissa, os principais motivos  são a desinformação e a disseminação de fake news, intensificados pelo movimento antivacinas, com informações indevidas sobre malefícios dos imunizantes e grande ênfase em possíveis efeitos colaterais.

Especificamente em relação à vacinação contra o HPV, a médica acredita que ainda há muito desconhecimento da população sobre as doenças que estão relacionadas ao vírus. Além disso, devido ao estigma que existe por ser um vírus transmitido sexualmente, muitos pais ficam receosos de que aplicação da vacina se torne um estímulo para o início precoce da vida sexual dos filhos. “Falta ainda muita informação aos pais, que poderiam ser abordadas nas escolas e em mais campanhas sobre a importância da vacinação contra o HPV”, afirma.