A medula óssea (conhecida como “tutano”) é um líquido gelatinoso que ocupa o interior dos ossos. É onde são produzidos os componentes do sangue, como as hemácias (glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas. Quando alguma doença afeta o seu funcionamento, o organismo pode entrar em colapso.

O transplante de medula óssea é indicado para o tratamento de cerca de 80 doenças relacionadas às células do sangue e deficiências no sistema imunológico, como leucemias, linfomas, doenças do sistema imune em geral, dos gânglios e do baço, anemias graves, além de mielodisplasias, doenças do metabolismo e vários tipos de tumores.

 

 

 

Tipos de doadores e transplantes

De acordo com a hematologista Andrea Wandalsen Arndt Almeida, coordenadora do setor de hematologia do hospital Biocor e médica da equipe de transplante do Oncobio, existem dois tipos de transplante de medula óssea: o autólogo, que utiliza a medula óssea colhida do próprio paciente, quando possível, e o alogênico, que utiliza a medula doada por outra pessoa.

Nos transplantes alogênicos, existem subdivisões de doadores classificados conforme o grau de prioridade:

  1. doador alogênico aparentado: irmão, pai ou mãe do paciente que seja 100% compatível;
  2. doador alogênico não aparentado: doador do banco de medula óssea que seja 100% compatível com o paciente;
  3. doador haploidêntico: doador do banco de medula óssea que seja 50% compatível com o paciente.

A médica explica que a escolha do doador depende do tipo compatível encontrado, da doença do paciente, de suas condições clínicas e do tempo que ele pode esperar pelo transplante.

Conforme o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), o doador ideal (irmão compatível) só está disponível em cerca de 25% das famílias brasileiras. Para a maioria dos pacientes é necessário identificar um doador nos bancos de voluntários. Por isso é importante ter uma grande quantidade de candidatos a doadores.

 

Comoção transformada em solidariedade

No terceiro sábado do mês de setembro é celebrado o Dia Mundial do Doador de Medula Óssea. E temos muito o que comemorar. Segundo a Dra. Andrea, hoje, no Brasil, há um volume significativamente alto de candidatos a doadores de medula óssea cadastrados. “Temos uma facilidade muito maior que há alguns anos. São poucos os casos em que a gente não consegue fazer o transplante por falta de doador.”

A fila de espera por um transplante existe, mas é bem mais ágil de acordo com a médica. Ela salienta que, muitas vezes, um paciente precisa aguardar pelo transplante, mas não pela falta do doador e sim por dificuldades de estrutura e vaga nos serviços públicos para a realização do procedimento.

“Acho que o aumento do número de candidatos à doação nos últimos anos se deve à sensibilização do brasileiro com a dificuldade do outro. Uma campanha desenvolvida pelos familiares de um paciente pode mobilizar milhares de pessoas. A necessidade de um transplante é algo que comove muito, principalmente quando há alguma ligação com o paciente”, afirma a hematologista.

Isso se comprova pelo perfil atual do doador. Segundo a médica, a grande maioria das pessoas que se disponibilizam como doadoras são parentes, amigos ou conhecidos de pessoas que precisam ou já precisaram de um transplante de medula.

É o caso da família do beneficiário Paulo Ferreira da Silva, 73 anos, residente em Montes Claros (MG). Há três anos, ele passou por um transplante de medula para tratar um mieloma múltiplo. Ele mantém o acompanhamento médico e está recuperado. “Hoje estou muito bem, faço atividade física e tenho uma vida normal. Ao verem tudo que eu passei, os meus filhos ficaram comovidos com a necessidade de outras pessoas e se cadastraram como doadores voluntários. Se eu pudesse, também seria um doador!"

 

 

"A minha recuperação foi muito boa. Faço acompanhamento médico mensal e tomo medicamentos contínuos para a doença não voltar. Foi tudo pela cobertura do plano da Copass Saúde, inclusive os medicamentos, que são bem caros. Acho o plano excelente!", completa Paulo Silva. 

Para a Dra. Andrea, a mobilização pela doação da medula óssea tem que ser permanente e tem o potencial de atingir cada vez mais pessoas que não tenham relação com os pacientes. “É importante que todos pensem na possibilidade da doação porque é uma grande oportunidade de dar um pouco de si para salvar outra pessoa. É questão de solidariedade”, conclui.

 

Mitos e riscos

A percepção da hematologista é de que os mitos em torno da doação de medula óssea são algo do passado. Atualmente, a informação está muito mais difundida e o que persiste, em sua visão, são preocupações com a saúde do doador.

Os riscos são baixos e dependem do tipo de coleta. Na doação por aspiração, o doador costuma relatar dor no quadril, local da punção, que tende a desaparecer em alguns dias. A maioria dos doadores consegue retornar às suas atividades habituais após uma semana. Na doação por aférese de sangue periférico, o doador pode apresentar um quadro gripal durante o uso da medicação para estimular as células-tronco, mas poderá retornar às suas atividades no dia seguinte à doação.

 

PASSO A PASSO PARA A DOAÇÃO VOLUNTÁRIA DE MEDULA ÓSSEA

Para se candidatar a doador é preciso:

  • Ter entre 18 e 35 anos de idade;
  • Estar em bom estado de saúde;
  • Não ter doença infecciosa transmissível pelo sangue (como HIV ou hepatite);
  • Não apresentar história de doença neoplásica (câncer), hematológica ou autoimune (como lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide).

Como se tornar um doador 

  • Procurar o hemocentro mais próximo e agendar uma consulta ou palestra de esclarecimento sobre doação de medula óssea. Em Minas, as unidades do Hemominas são referência.
  • É necessário apresentar documento de identidade, assinar um termo de consentimento livre e esclarecido e preencher uma ficha com informações pessoais.
  • Será retirada uma pequena quantidade de sangue (10ml) do candidato a doador, que será analisada por exame de histocompatibilidade (HLA), um teste de laboratório para identificar as características genéticas.
  • Os dados pessoais e o tipo de HLA serão incluídos no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME), para serem cruzados com os dados de pacientes que necessitam de transplantes e determinar a compatibilidade.
  • Quando houver um paciente com possível compatibilidade, o doador será consultado para decidir quanto à doação. Por isso, é fundamental manter os dados sempre atualizados.
  • Para dar continuidade, serão necessários outros exames para confirmar a compatibilidade e uma avaliação clínica de saúde do doador.
  • Somente após todas as etapas concluídas o doador poderá ser considerado apto e realizar a doação.

Como é feita a doação

Estando tudo em conformidade, é preciso conciliar uma série de fatores e condições do doador, do paciente, do centro coletor e do centro de realização do transplante para agendar a coleta. O doador recebe uma licença médica para realizar a doação.

A coleta pode ser feita de duas formas:

. por aspiração da medula óssea de dentro do osso da bacia, feita no bloco cirúrgico e sob anestesia peridural, com duração de aproximadamente duas horas.

.  por sangue periférico, através de uma máquina de aférese que colhe a medula pelo sangue. O doador faz uso de uma medicação por cinco dias para aumentar o número de células-tronco circulantes no seu sangue. Não há necessidade de internação nem de anestesia.

A decisão pelo método mais adequado para cada coleta é exclusivamente do médico. De qualquer forma, a opção do doador é sempre respeitada.

 

BANCO DE DOADORES VOLUNTÁRIOS DE MEDULA ÓSSEA

O cadastro dos doadores no Brasil é feito pelo Redome, Registro de Doadores Voluntários de Medula Óssea, que é coordenado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA). O Redome coordena a entrada dos doadores e a viabilização da doação. Esse cadastro se interliga com os bancos internacionais.

A Dra. Andrea destaca o perfil genético do doador brasileiro, pois a população apresenta características genéticas diferentes, com a prevalência de traços da miscigenação de índios, africanos ou europeus, por exemplo, de acordo com cada região do país. Isso significa que a probabilidade de encontrar um doador compatível é maior na própria região de origem do paciente.