A varíola dos macacos é uma doença causada pelo vírus monkeypox, que é muito parecido com o que causa a varíola comum. Ambos são orthopoxvírus, o que significa que são agrupados num mesmo gênero ou família de vírus. A doença ficou conhecida com esse nome porque foi identificada pela primeira vez em colônias de macacos mantidas para pesquisa em 1958. Só em 1970, foi detectada também em humanos.

Em 23 de julho de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto de varíola dos macacos uma emergência de saúde pública de importância internacional. O atual surto começou em maio e, conforme a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), até agora (05/08/22) afetou 89 países. De acordo com dados do Ministério da Saúde (atualizados em 09/08/22), no Brasil já foram registrados 2.415 casos confirmados. Em Minas, foram 102 casos confirmados, com um óbito.

 

Segundo o infectologista do Hospital Madre Teresa, Dr. Estevão Urbano, que foi um dos integrantes do Comitê de Enfrentamento à Covid-19, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, “nesse momento, é menos provável que a epidemia de monkeypox se torne algo maior, como a pandemia de covid. Como a doença tem uma forma de disseminação muito mais lenta e mais difícil, acredito que o número de casos seja bem menor. Além disso, não têm sido observadas mutações do vírus.” Contudo, o médico esclarece que a mutação é inerente aos vírus e quanto mais eles se multiplicam, maiores as chances de ocorrerem mutações. Por isso é tão importante conter a disseminação da doença.

 

TRANSMISSÃO 

A varíola dos macacos é transmitida principalmente em locais endêmicos, como países da África, através do contato com animais infectados. O macaco, na verdade, é uma vítima, assim como os humanos. Os principais transmissores são pequenos roedores como esquilos e ratos.

De acordo com o Dr. Estevão Urbano, “no atual surto, a forma de transmissão mais reconhecida no Ocidente é de pessoa a pessoa. Com a globalização, a facilidade de deslocamento de um país para outro, não é preciso ir até a África para pegar a doença através dos animais.” Vale ressaltar que, no Brasil, não existem macacos ou outros animais contaminados, sendo as pessoas as responsáveis pela contaminação.

 

Dr. Estevão Urbano, infectologista.

 

São três as principais formas de transmissão, segundo o infectologista:

1 – Através de gotículas respiratórias, ou seja, por gotículas da saliva ou da mucosa oral e nasal de uma pessoa contaminada espalhadas no ar através da tosse, por exemplo. Nesse caso, a transmissão pode ser prevenida com o uso de máscaras, principalmente em locais fechados e com maior aglomeração de pessoas. Mesmo sabendo que essa transmissão é menos efetiva que a da covid, que necessita de um contato menor e por menos tempo para infectar o indivíduo, é mais seguro utilizar máscara para evitar o contágio.

2 – A segunda forma de transmissão é pelo contato com as feridas. O doente que está com feridas precisa ser tocado com luvas para evitar a contaminação.

3 – A forma de contágio mais comum até o momento, no Ocidente, é a transmissão por secreções e fluidos durante a relação sexual desprotegida

 

SINTOMAS

O período de incubação varia, normalmente, de uma a duas semanas. Primeiro vêm sintomas parecidos com uma gripe, como febre, dor no corpo, tosse, dor de garganta, prostração, fadiga, linfonodos inchados (ínguas). Depois de três a quatro dias é que aparecem as lesões na pele. Desde o início dos sintomas, a pessoa já pode transmitir a doença. Isso facilita a contaminação porque a pessoa pensa que está só com uma gripe e não fica isolada.

As feridas na pele começam com uma pápula, depois se forma uma secreção dentro dessa pápula, que se abre formando uma úlcera. Essa úlcera evolui para uma crosta que vai cicatrizar e cair num período que pode durar até semanas. Elas podem se espalhar pelo corpo inteiro e a quantidade de lesões é variável. Geralmente pessoas imunossuprimidas desenvolvem mais lesões da doença na pele.

Durante todo o período que a pessoa tem as lesões, até cicatrizarem completamente, é possível transmitir a doença. Nos casos mais graves, que acometem pessoas que já estão com a saúde debilitada, a doença pode afetar os olhos, cérebro e pulmões, podendo ser fatal.

 

GRUPOS VULNERÁVEIS

O grupo de maior risco para desenvolver quadros graves da doença são os imunossuprimidos. Além destes, profissionais da saúde, pessoas que viajam para a África e têm contato com os animais, pessoas com comportamento sexual de risco ou pessoas que tiveram contato próximo com infectados também são mais vulneráreis.

Segundo o Dr. Estevão, crianças, gestantes e idosos que não tenham outras doenças mais severas como câncer, por exemplo, não são mais sensíveis à doença. As lesões podem até levar mais tempo para cicatrizar, mas os quadros geralmente evoluem para a melhora completa.

 

PREVENÇÃO

Para a prevenção da varíola do macaco é fundamental o uso de máscaras em locais fechados e com aglomeração de pessoas, uso do preservativo nas relações sexuais e evitar o contato com pessoas infectadas, principalmente com as lesões de pele.

O contágio por objetos é mais difícil, mas pessoas diagnosticadas devem ser isoladas em casa e é recomendável que seus objetos pessoais sejam separados e que seja feita a limpeza do ambiente, de preferência com produtos virucidas, como à base de álcool ou quaternário de amônio. 

O tempo recomendado de isolamento é individual, até a cicatrização total, que pode levar até quatro semanas. Após a melhora , geralmente, o paciente adquire imunidade contra a doença. Vale ressaltar que qualquer pessoa que esteja imunossuprimida pode perder a imunidade já adquirida contra doenças.

 

VACINA

A prevenção também passa pela vacina, num primeiro momento, para os grupos mais vulneráveis. O imunizante já existe, mas não é produzido no Brasil e deve chegar ao país daqui a um ou dois meses. O infectologista explica que, de acordo com a quantidade adquirida, a distribuição será definida pelo Ministério da Saúde, que, possivelmente, deverá priorizar os grupos de risco devido à baixa produção do imunizante no mundo. “O ideal seria um movimento de vacinação mais amplo, mas essa necessidade vai ser entendida com o tempo. Dependendo da dinâmica da epidemia, é que a vacina pode vir a ter indicação global”, afirma o médico.

 

TRATAMENTO

Hoje, não há tratamento específico para a doença disponível no Brasil. Os casos são tratados de acordo com os sintomas, podendo ser usados antibióticos para infecções secundárias geradas em função das lesões. Está em negociação a importação de um antiviral específico, que deverá ser administrado, em primeiro momento, para os casos com maior potencial de agravamento.

 

PERSPECTIVAS

Para o Dr. Estevão Urbano, “o que vai acontecer daqui pra frente vai depender do que nós fizermos para conter a doença. Se houver campanhas eficientes de conscientização, se a vacina chegar a tempo aos grupos de risco, vamos conseguir limitar a propagação e evitar uma explosão da doença. Vai depender de uma série de fatores como a reação dos governos e a adesão das pessoas à prevenção.”

A recomendação do infectologista para este momento é não entrar em pânico e manter a atenção. É hora de adotar uma postura de cautela no combate à doença e prevenção.

 

Fontes:

Ministério da Saúde

Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)

Instituto Butantan