A fibromialgia é uma doença crônica bastante comum, afetando 2,5% da população mundial. No Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, cerca de 2% a 3% da população sofre com a doença, o que equivale a mais de 6,5 milhões de pessoas. Geralmente afeta mais mulheres do que homens e aparece entre 30 e 50 anos de idade, embora possa acometer pessoas de qualquer idade.

“A fibromialgia é uma doença que não deixa sequelas físicas, como deformidades observadas na artrite reumatoide, e não é uma doença autoimune, que demanda tratamento imunossupressor. No entanto, é uma síndrome que não pode ser negligenciada pois, sem controle, traz muito sofrimento ao paciente”, explica a Dra. Iara Abreu, reumatologista do Centro de Infusão Compartilhado - CIC. Confira, na entrevista abaixo, as orientações da médica em relação à doença.

 

O que é a fibromialgia?

É uma síndrome que se caracteriza, principalmente, por dor constante por todo o corpo, associada a fadiga e distúrbios do sono. Pode apresentar distúrbios gastrointestinais, como, por exemplo, a síndrome do intestino irritável, e déficits cognitivos, como alteração da memória.

Apesar da dor, os pacientes com o diagnóstico de fibromialgia não apresentam inflamação das articulações, alteração de força muscular e nem alterações de mobilidade articular, preservando uma boa amplitude de movimento.

 

O que causa a doença?

A causa está associada a uma resposta anormal e inadequada do sistema nervoso aos estímulos que provocam a dor, tendo como consequência uma dor mais intensa, não esperada para aquele estímulo. Acredita-se que há um componente genético na origem da fibromialgia. Além disso, muitos pacientes relacionam o início da dor a momentos estressantes ligados a algum trauma psicológico ou físico.

 

Quais os sintomas?

A fibromialgia tem como sintoma principal a dor difusa, generalizada e crônica. Pode associar-se à dor, a sensação de edema (inchaço), principalmente em mãos e antebraços (sintoma não confirmado no exame físico), além de parestesias (dormências).

A maioria dos pacientes apresenta também alterações do sono, fadiga crônica, alterações de concentração e memória, disfunção da articulação temporomandibular, alterações intestinais e cefaleia.  Observa-se ainda grande associação da fibromialgia a transtornos do humor, como depressão e ansiedade.

 

Como diagnosticar?

O diagnóstico da fibromialgia é clínico e até o momento não são utilizados exames complementares na sua determinação.  É feito, portanto, através da queixa clínica do paciente somada ao exame físico, que pode demonstrar pontos dolorosos na musculatura, sem apresentar disfunções articulares e/ou musculares.

 

Quais os fatores de risco? É possível prevenir a doença?

Sendo a fibromialgia uma síndrome que está associada a um componente genético e, provavelmente, a traumas ou condições estressantes, falar em fator de risco para a doença não é uma tarefa fácil, uma vez que alguns gatilhos são difíceis de serem previstos ou evitados. A doença é mais comum em pessoas  com histórico familiar de fibromialgia. Embora possa acometer pessoas de qualquer idade, é mais frequente em mulheres do que homens. Além disso, estatísticas apontam que é mais prevalente entre as mulheres de 30 a 60 anos de idade, apesar de não haver ainda uma resposta elucidativa para essa tendência, que seja baseada em dados científicos robustos.

As formas de tratamento não medicamentoso da doença são também formas de prevenção, como a realização de atividade física regular e acompanhamento psicológico adequado.

 

A doença tem cura? Quais as formas de tratamento?

A fibromialgia não tem cura, mas tem tratamento com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

O exercício físico, principalmente aeróbico, realizado tanto na água quanto no solo, é uma medida fundamental para pacientes com fibromialgia. Essa modalidade terapêutica melhora a dor, a capacidade funcional e até os aspectos emocionais da doença, sendo uma das etapas mais importantes do tratamento. Cada paciente deve ser orientado a realizar as atividades de acordo com sua capacidade, aumentando sua intensidade vagarosamente. É importante salientar que as respostas não são imediatas, elas acontecem a longo prazo. Porém, a persistência é de extrema importância nesse processo. O repouso prolongado geralmente é prejudicial.

Como a fibromialgia também está associada a depressão e ansiedade, é interessante reforçar a importância das terapias psicológicas para abordagem dos mecanismos de estresse.

Quando necessário, é realizado também o tratamento medicamentoso, composto, geralmente, por medicações antidepressivas, relaxantes musculares e analgésicos, prescritos pelo médico assistente de acordo com a necessidade do paciente e sua possibilidade de uso.

 

Como os portadores podem ter mais qualidade de vida?

Com o tratamento correto e a participação ativa do paciente, espera-se a melhora da qualidade de vida a partir do alívio do sofrimento com a dor e suas consequências, como a fadiga crônica e alterações do sono, por exemplo.

Iniciar com a educação do paciente em relação à sua doença é de extrema importância para o sucesso do tratamento. É fundamental que ele compreenda seu problema e atue no controle, pois o paciente é o principal agente do processo de melhora.

O tratamento, preferencialmente, deve ser orientado pelo reumatologista ou médico estudioso da dor para que possa, com paciência e assertividade, em conjunto com o paciente, proporcionar mais qualidade de vida a quem sofre dessa comorbidade.