Cerca de 63,3% dos estudantes de escolas públicas e particulares entre 13 e 17 anos já experimentaram bebida alcoólica, sendo mais de um terço deles antes dos 14 anos. Além disso, cerca de 13% dos escolares já haviam experimentado algum tipo de droga ilícita. Estes são dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019, do IBGE.

Para Vinícius Carossi, psicólogo, psicanalista, coordenador do Projeto Freud Adolescente, da clínica Freud Cidadão, essa realidade pede maior atenção dos pais, pois, além dos prejuízos para a saúde e riscos de dependência, indica que algo não está bem.

Consequências do consumo precoce

O cérebro do adolescente tem regiões ainda em formação e os impactos do uso de álcool e drogas podem ser mais duros para o organismo. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o consumo por adolescentes e jovens pode ter sequelas neuroquímicas, emocionais, déficit de memória, perda de rendimento escolar, retardo no aprendizado e no desenvolvimento de habilidades, entre outras. O uso excessivo também os torna mais expostos a situações de violência sexual e comportamentos de risco, o que pode levar à gravidez precoce e à exposição a doenças sexualmente transmissíveis, além de elevar a probabilidade de envolvimento em situações como acidentes de trânsito, homicídios, suicídios e incidentes com armas de fogo.

 

Estudos mostram que o consumo precoce aumenta as chances do indivíduo se tornar dependente químico no futuro. Contudo, o psicólogo Vinícius alerta que a questão mais importante a se observar é que o uso precoce indica, geralmente, uma situação de vulnerabilidade deste jovem ou adolescente, que pode contribuir para que ele se torne dependente.

 

Fatores de risco

Vinícius Carossi diz que a iniciação precoce tem relação, na maioria das vezes, com a situação que aquele indivíduo está vivendo. “Muitos adolescentes buscam na droga ou álcool uma forma de alívio, seja para uma ansiedade excessiva ou por diversas questões próprias dessa fase da vida, que ele não consegue administrar bem.”

A pergunta fundamental, segundo ele, é: por que aquele jovem está buscando as drogas ou o álcool? Diversas questões que ocorrem dentro ou fora de casa podem colaborar para isso. Em meio ao turbilhão de emoções e reações naturais da adolescência, a  realidade socioeconômica, ambiente familiar tumultuado, brigas e o silenciamento do adolescente (não permitir que ele se manifeste ou não ouvi-lo) são exemplos de gatilhos que podem gerar o interesse pelo consumo de substâncias psicoativas. 

A falta de diálogo em casa é um dos fatores de risco mais importantes. “É fundamental que os adolescentes encontrem vias de mostrar aos pais como se sentem”, explica o psicólogo. Além disso, não se pode ignorar as evidências de que algo não está bem, mesmo quando isso não é dito. Um jovem ou adolescente que passa muito tempo sem produzir nada, sem vontade, sem vitalidade está sinalizando que precisa de ajuda. Um dos grandes fatores que fazem com que a pessoa busque ou não consiga se livrar do uso de álcool e drogas é a falta de recursos de vida fora da dependência, ou seja, a ausência de outras possibilidades aumenta a vulnerabilidade diante do consumo dessas substâncias.

 

Sinais que merecem atenção

Segundo Vinícius Carossi, o  comportamento dos adolescentes e jovens em casa apresenta indícios de que há situações de vulnerabilidade, que podem levá-lo ao uso de álcool e drogas, ou de que ele já esteja consumindo. É comum observar mudanças abruptas de comportamento; queda sensível do rendimento escolar ou envolvimento em situações delicadas no ambiente escolar; ansiedade ou medo exacerbados; isolamento do mundo; rompimento de laços sociais.

Em casos de dificuldades e mudanças significativas, é importante que o adolescente ou jovem e sua família possam contar com ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou grupos de apoio.

 

O Projeto Freud Adolescente, coordenado pelo psicólogo Vinícius Carossi na clínica Freud Cidadão, credenciada da Copass Saúde, é um exemplo de apoio para o tratamento de sofrimentos mentais específicos da adolescência. Saiba mais em https://freudcidadao.com.br/tratamentos/clinica-dia/.

 

 

 

 

O que fazer para evitar o consumo precoce

É cada vez mais difícil evitar a exposição de adolescentes e jovens ao álcool e drogas. Mas, dentro do possível e da realidade de cada família, postergar esse contato é uma forma de proteção, afirma o psicólogo.  O mais importante, no entanto, é orientação. Ele salienta que, por mais que surjam tecnologias de controle para saber onde os filhos estão, o que estão fazendo etc., o diálogo ainda é a ferramenta mais avançada que se pode lançar mão.

“O que os pais podem controlar, na verdade, é a proximidade que mantêm em suas relações com os filhos. Quanto menos distantes e mais confortáveis para falar sobre suas experiências de vida, mais seguros e menos vulneráveis aos riscos os adolescentes e jovens estarão. Além disso, quando se mantém uma ponte aberta entre pais e filhos, respeitando a privacidade necessária nessa fase, fica mais fácil pedir ou oferecer ajuda quando é necessário”, diz Vinícius.

Ative a química do bem-estar!

Garantir uma mente mais saudável também evita a necessidade de buscar formas de alívio momentâneo por adolescentes e jovens. Uma estratégia interessante é introduzir em casa, desde cedo, hábitos alimentares e de vida que favoreçam naturalmente a produção dos chamados hormônios da felicidade”.

Envie essa playlist para sua família e saibam como ativar, de maneira saudável, a química do bem-estar e os hormônios da felicidade: clique aqui.

 

A questão do exemplo

O uso em excesso de substâncias psicoativas na presença de crianças e adolescentes pode despertar interesse, mas, geralmente, a forma como esse consumo acontece faz diferença.

De acordo com o psicólogo, a relação estabelecida pelos pais com o álcool ou drogas influencia também a relação dos filhos. Isso quer dizer que a função que esse consumo tem para os pais vai ser transmitida para os filhos como aprendizado. Se um pai ou mãe faz uso dessas substâncias como forma de escape ou alívio em momentos de tensão ou dificuldade, os filhos podem entender que essa é uma função das substâncias e, em situações semelhantes, poderão buscar o mesmo comportamento.

Segundo Lorraine Falqueto, psicóloga da USSS – Unidade de Serviço em Saúde e Segurança do Trabalho da Copasa, “a influência dos pais usuários como modelo para os filhos pode ser bastante significativa, afinal, as crianças aprendem através da observação de seus pais. O jovem pode, nesse caso, passar a enxergar o uso/abuso de substâncias psicoativas como forma de enfrentamento. Além disso, a influência cultural também pode aumentar a predisposição ao uso abusivo, devido a tradições locais, eventos sociais e normas comunitárias que favorecem o consumo.”

PASA

A COPASA cuida da dependência química, por meio de seu Programa de Prevenção e Atendimento ao Sujeito em Relação ao Álcool e às Drogas (PASA), com ações de prevenção e de tratamento. De acordo com a psicóloga Lorraine, do total de inscritos atualmente no programa, 51% iniciaram o consumo de substâncias psicoativas entre 13 e 18 anos.

Para saber mais sobre o PASA, entre em contato com Alessandra Gomes e Lorraine Falqueto pelos telefones (31) 3250-2218 / (31) 3250-1116. 

Saiba mais sobre o programa assistindo ao vídeo abaixo e lendo depoimentos :

 

Confira a opinião de quem sabe o que é conviver com a dependência química:

>>> “O PASA representa uma mudança de vida para mim. Antes, eu tinha outra visão, era tudo mais difícil. Mas quando você chega lá, entende que pode ser diferente, que é possível viver de outro modo, de um modo mais saudável.

Eu diria aos adolescentes e jovens para, se possível, nunca experimentarem álcool ou drogas. Você pode começar de forma tranquila, bebendo socialmente, em momentos de euforia. Mas tudo pode mudar de acordo com o que você está vivendo. Quando surgem dificuldades, situações que a vida sempre tem, você pode acabar usando isso como uma saída para se desligar dos problemas.”  Participante ativo do PASA, que prefere não se identificar.

>>> “Através do PASA, eu saí do fundo do poço. Hoje ele é meu ponto de apoio, somos uma família. O programa e os companheiros me deram muita força. E agora eu posso estender a mão para aqueles que estão passando pelo que eu passei. Agradeço ao gerente Marco Aurélio Ribeiro, que foi a primeira pessoa que me deu apoio nessa caminhada. No PASA, resgatei minha fé, minha dignidade e meu caráter perante a sociedade que nos julga.

Para os jovens e adolescentes, eu digo que jamais se aproximem do álcool, cigarro ou drogas porque pode ser um caminho sem volta. A dependência química destrói famílias. O melhor caminho é se fortificar na família, na religião e na educação." João Batista de Carvalho, conselheiro do PASA e participante desde 2014, no distrito de Varginha.