Seis em cada dez brasileiros apresentam excesso de peso, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2019), do Ministério da Saúde. Isso corresponde a cerca de 96 milhões de pessoas. São dados alarmantes, visto que os índices vêm crescendo nos últimos anos e foram impulsionados no período da pandemia de covid-19.

A obesidade é uma doença crônica, caracterizada pelo acúmulo de gordura corporal. Essa gordura em excesso compromete a saúde geral do organismo, acarretando vários prejuízos como o surgimento de outras doenças, alterações metabólicas, dificuldades respiratórias e do aparelho locomotor.

Segundo a nutricionista Fabiulla Silva, da clínica do Programa Integração Saúde, em Diamantina, a grande consequência da obesidade é o desenvolvimento de comorbidades como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e outras doenças cardiovasculares como dislipidemias (colesterol alto). Além disso, geralmente, o indivíduo obeso tem limitações no aspecto físico e social, o que implica em perda de qualidade de vida.

 

O QUE CAUSA A OBESIDADE

O ganho de peso não pode ser avaliado isoladamente, do ponto de vista alimentar, afirma Fabiulla. “Sabemos que vários fatores contribuem para a obesidade. Às vezes, o indivíduo pode não ter um consumo excessivo de alimentos prejudiciais, mas existem fatores genéticos, hormonais, emocionais ou ambientais, como estilo de vida, sedentarismo, estresse, entre outros, que levam ao acúmulo de gordura no organismo”.

No campo da alimentação, os maiores vilões são os alimentos ultraprocessados, que têm grande adição de açúcares, sal, gordura, farinha branca, etc. Um indivíduo que tem esses alimentos como base da sua alimentação, que não come “comida de verdade”, ou que consome com exagero alimentos do grupo dos carboidratos tem um risco maior de sobrepeso. Além disso, o excesso de bebida alcoólica também é um fator predisponente para o acúmulo de gordura corporal.

De qualquer forma, a nutricionista explica que é necessária uma avaliação individual da rotina alimentar e do contexto de vida para identificar os fatores que levam cada pessoa à obesidade.

 

O FATOR ANSIEDADE

A ansiedade pode levar à obesidade quando a pessoa encontra na alimentação uma válvula de escape. A pessoa ansiosa, segundo Fabiulla, tende a descarregar alguma emoção que não está controlada na busca excessiva por alimentos. E essa busca, na grande maioria das vezes, é por alimentos mais calóricos, como os ultraprocessados.

Nesses casos, é muito importante que o acompanhamento nutricional individualizado, com um trabalho de educação alimentar, seja feito em parceria com o atendimento psicológico, que vai ajudar o paciente a entender as causas da sua ansiedade.

 

O EXCESSO DE PESO NA POPULAÇÃO BRASILEIRA

A obesidade é calculada através do Índice de Massa Corporal (IMC), obtido com a divisão do peso pela altura ao quadrado (kg/m2). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o resultado igual ou superior a 25 kg/m2 indica sobrepeso e a partir de 30 kg/m2 é considerada a obesidade.

A pesquisa Vigitel 2021, do Ministério da Saúde, mostrou que o índice de adultos com excesso de peso no Brasil é de 57,2% e o índice de obesidade é de 22,4%.

Entre os adolescentes (15 a 17 anos), a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2019) revelou que 19,4% estão com excesso de peso, o que representa aproximadamente 1,8 milhões de indivíduos. E, entre eles, 6,7% já têm obesidade.

Em relação à obesidade infantil, o Ministério da Saúde e a Organização Panamericana da Saúde (OPAS) apontam que 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos têm obesidade.

 

OBESIDADE INFANTIL

O aumento dos índices de crianças obesas no Brasil e no mundo vem se configurando como um problema de saúde pública. Quanto mais cedo o indivíduo está acometido pela obesidade, mais propenso ele fica ao aparecimento de comorbidades. E caso o excesso de peso perdure ao longo dos anos, os prejuízos irão atingir esse indivíduo de forma mais precoce.

A nutricionista Fabiulla afirma que é possível visualizar os prejuízos da obesidade já na primeira infância. Geralmente a criança obesa fica mais limitada fisicamente e perde muito em qualidade de vida. Além disso, muitas vezes, ela sente-se ignorada ou excluída pelas demais, especialmente no ambiente escolar. Por isso é fundamental buscar ajuda profissional para entender os fatores que estão levando ao ganho de peso.

O tratamento e a prevenção são semelhantes para qualquer idade, mas vale lembrar que quanto mais cedo, melhor. De acordo com Fabiulla, o cuidado com a criança começa desde a introdução alimentar e, principalmente, no início da vida escolar, onde começa o contato com alimentos diferentes dos da rotina em casa.

 

“É uma construção”, afirma. “Eu acredito muito que a prevenção parte da conscientização dos pais e familiares quanto à importância de se criar uma rotina saudável para a criança, construindo uma base sólida que tende a se perdurar nas fases adulta e idosa.”

 

 

 

 

INFORMAÇÃO INADEQUADA

Para a nutricionista Fabiulla, não dá para definir mitos e verdades em relação à obesidade porque a avaliação precisa ser individualizada. A facilidade de acesso à informação pela internet faz com que as pessoas acreditem em fontes não confiáveis ou em informações generalizadas, que não são adequadas para o seu perfil.

Dietas restritivas ou milagrosas, por exemplo, não são um bom caminho. Ela ressalta que “não é o alimento por si só que ocasiona o ganho ou a perda de peso. É todo um contexto que deve ser bem avaliado. As pessoas precisam desmitificar isso e parar de buscar informações sem orientação.”

 

TRATAMENTO

Segundo Fabiulla, a estética não pode ser o foco do tratamento da obesidade. Se a pessoa busca emagrecer por motivos estéticos, quando atinge seu objetivo ela tende a ceder e não dar continuidade ao tratamento.

Por outro lado, quando o objetivo é saúde e qualidade de vida, o resultado é visto a longo prazo. Nesse caso, tem que se importar com a forma como se pretende chegar à velhice, a forma como se conduz a vida cotidiana. Não pode ter um enfoque temporário. É preciso pensar nos anos futuros para que haja uma mudança de comportamento.

 O tratamento, apesar de individualizado, se pauta em preceitos gerais:

  • Qualidade – melhora dos hábitos alimentares, com o consumo de vegetais e alimentos in natura;
  • Diversidade – variação de alimentos dentro de um mesmo grupo alimentar;
  • Quantidade – porcionamento das refeições, de acordo com as necessidades nutricionais;
  • Fracionamento – divisão das refeições por períodos ao longo do dia.

ORIENTAÇÕES GERAIS PARA EVITAR A OBESIDADE

Seja qual for a idade, hábitos de vida simples podem evitar a obesidade:

- Praticar atividade física regular;

- Manter uma alimentação mais limpa, com consumo adequado de “comida de verdade”, alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras;

- Evitar o consumo em excesso de alimentos industrializados ou ultraprocessados;

- Manter uma rotina de sono adequada;

- Controlar os níveis de estresse, investindo em atividades de relaxamento;

- Ingerir bastante água.

Se, mesmo adotando essas recomendações, a pessoa mantiver o ganho de peso, é essencial a busca por avaliação profissional para ter um atendimento clínico individualizado.

 

Fontes:

ABESO – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica

Ministério da Saúde – Pesquisa Vigitel 2021

Agência Brasil