Muita gente acredita que a alergia está ligada à baixa imunidade do organismo, mas é justamente o contrário: é uma resposta exagerada do sistema imunológico ao contato com agentes externos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS, as alergias ocupam o quarto lugar das doenças crônicas que mais afetam a população no mundo. Dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia mostram que cerca de 30% dos brasileiros são alérgicos. O Dia Mundial da Alergia, 08 de julho, foi instituído pela OMS para alertar a população sobre a doença, que pode levar à morte.

O alergista e imunologista, Dr. Antônio Penido, coordenador do Centro de Alergia e Imunologia do Hospital Felício Rocho, de Belo Horizonte, afirma que “a grande maioria das pessoas tem alguma propensão a alergias. O problema é que os pacientes demoram muito a entender que os seus sintomas são alérgicos e somente quando começam as crises mais graves é que procuram investigar as causas e fazer o tratamento.” Existem diversos tipos de alergia, sendo mais frequentes as respiratórias, alimentares e de pele, segundo o médico. Elas têm características e abordagens de tratamento diferentes.

 

PREVENÇÃO DESDE CEDO

O alergista explica que se a mãe ou a pai de uma criança é alérgico, ela tem de 40 a 60% de chance de ser alérgica. Se ambos são alérgicos, aumenta para 60 a 80% a chance de desenvolver as mesmas alergias dos pais. Asma, rinite alérgica e dermatite atópica são as mais comuns.

Para prevenir ou reduzir a incidência, o aleitamento materno é, comprovadamente, um importante fator protetor. Estudos também apontam o parto normal (vaginal) como fator de prevenção. Além disso, se a criança é propensa a alergias, o controle das condições ambientais em que ela vive é essencial para evitar o problema.

Ao contrário do que se pensa, a exposição tardia da criança aos alimentos alérgenos, como leite e ovo, pode, ao invés de protegê-la, aumentar a chance de ter alergia. O alimento deve ser dado no tempo adequado, a partir dos seis meses de vida. Também no caso específico de alergia a pelo de cachorro, estudos mostram que se os pais são alérgicos, a exposição precoce do filho ao pelo de cachorro pode evitar o desencadeamento da alergia ou torná-la mais branda.

 

CONCLUSÕES EQUIVOCADAS

Há muitos mitos em relação às alergias e, por isso, elas devem ser investigadas de forma adequada quando há suspeitas. Muitas pessoas acham que têm alergia a antibiótico, por exemplo, quando não têm. Isso acontece porque qualquer infecção pode causar placas no corpo semelhantes a alergia e as pessoas associam essa reação ao uso do medicamento. Outro equívoco clássico, segundo o médico, é achar que o leite piora os quadros de rinite alérgica, o que não é verdade.

 

Imagem: Dr. Antônio Penido, coordenador do Centro de Alergia e Imunologia do Hospital Felício Rocho, de Belo Horizonte.

 

AUMENTO DOS CASOS

Um dos fatores que mais contribuem para o aumento dos casos de alergia atualmente, principalmente respiratórias, é a poluição do ar nos centros urbanos, afirma o alergista. Poluentes ambientais, como a fumaça, causam irritação na mucosa nasal e desencadeiam ou pioram os quadros alérgicos. Vale ressaltar que, hoje, os diagnósticos de alergias são mais evoluídos e realizados com maior frequência, refletindo-se num maior número de casos confirmados.

 

TIPOS MAIS COMUNS DE ALERGIA

Respiratórias - são o tipo mais frequente, representando cerca de 50 a 60% dos pacientes no consultório. Está extremamente relacionada aos componentes do ambiente, como a poeira. Os principais alérgenos ambientais são poluição, ácaros, fungos, pólen, pelos de animais, insetos. É importante observar sintomas como nariz entupido, coriza, coceira e tosse, na ausência de febre, dor de garganta ou sinais de infecção.

O principal fator de prevenção das alergias respiratórias é o controle ambiental. No inverno, por exemplo, a tendência de manter os ambientes fechados diminui a circulação do ar, aumentando a concentração dos alérgenos. É preciso deixar os ambientes sempre bem ventilados e limpos de forma adequada. Para alergias respiratórias relacionadas a alérgenos do ambiente existe ainda a imunoterapia, que são as vacinas.

Alimentares - os alimentos mais alérgenos para adultos são camarão, amendoim e seus semelhantes. Para as crianças são leite, ovo, trigo e soja. Os sintomas podem ser diarreia, placas avermelhadas pelo corpo, inchaço, entre outros. A base do tratamento é retirar da dieta o alimento que causa a alergia, mas somente quando este causa reação imediata.  Para alergia a alguns alimentos como leite e ovo, pode-se expor o paciente a pequenas frações do alimento, sob observação médica em ambiente hospitalar, para que o organismo se acostume. Mas isso só é feito para quadros mais leves e depois de serem feitos testes preliminares para garantir a segurança do paciente.

O Dr. Antônio salienta que alergia alimentar não deve ser confundida com intolerância, pois são processos diferentes, com tratamentos específicos. Também faz um alerta para o teste conhecido como IgG para alimentos, que tem sido solicitado por profissionais, mas não é indicado para diagnóstico de alergia alimentar.

De pele – as alergias de pele chamadas dermatites atópicas são caracterizadas por lesões na pele, ressecamento e coceira. São comuns na infância e podem estar relacionadas a fatores ambientais. A base do tratamento é a hidratação, mas a imunoterapia também pode ser utilizada em muitos casos, como auxiliar. As vacinas, no entanto, não devem ser usadas em alergias de pele como a urticária, pois não melhoram o quadro segundo o alergista.

A dermatite de contato é outro tipo de alergia comum, principalmente no ambiente ocupacional. Devido ao contato frequente com determinadas substâncias químicas e elementos alérgenos, a pessoa pode desenvolver a alergia, geralmente com descamação da pele, irritação, coceira, vermelhidão. Também é bastante comum a dermatite de contato causada por cosméticos e bijuterias.

 

OS RISCOS DA AUTOMEDICAÇÃO

Os medicamentos com efeito antialérgico têm composição e indicação diferentes para cada tipo de alergia. Por isso, devem ser utilizados conforme a prescrição médica para evitar efeitos colaterais, principalmente os corticóides.

É comum a automedicação com antialérgicos ultrapassados (primeira geração), que causam muita sonolência, diferentemente dos medicamentos de segunda geração, que são mais seguros. Outro medicamento perigoso é o descongestionante nasal, que só deve ser usado em casos específicos e por tempo determinado, pois pode causar sérios danos se usado de forma contínua.

 

Fontes:

ASBAI – Associação Brasileira de Alergia e Imunologia

Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde

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